Peri em Brocéliande: o deserto-floresta n’O Guaraní, de José de Alencar
DOI:
https://doi.org/10.53971/2718.658x.v10.n15.24821Palavras-chave:
Romantismo, Chrétien de Troyes, romance, espaço, normatividadeResumo
Este artigo procura articular a representação da paisagem e sua vinculação com o caráter do herói em O guarani, de José de Alencar, obra capital do Romantismo brasileiro; em outras palavras, busca articular espaço e normatividade como componentes essencias da narrativa.
Desde Gaston Bachelard, o espaço vem se configurando como instância importante para a ficção, mas será a partir das análises de Iuri Lotman e Henri Mitterand que ele deixará de ser acessório para se tornar decisivo para a organização do enredo. Lotman cunha a noção de fronteira, enquanto Mitterand propõe o conceito de ultrapassagem de fronteiras. Uma e outra definições são fundamentais para compreender o processo de constituição do herói no romance de Alencar, posto que Peri será o único personagem a transitar livremente pelos espaços da “casa” e da “floresta”, incorporando valores de um e outro.
Dialogando com as narrativas medievais de Chrétien de Troyes, particularmente “Le chevalier au lion” et “Le conte du Graal”, o herói de O guarani rompe, entretanto, com o código de honra cavaleiresco ao adotar a traição como expediente regular. Será a floresta, como topos central do imaginário medieval (Le Goff), que irá propiciar tal estatura híbrida e ambivalente do herói.
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