Relação teoria e prática segundo futuros professores
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 91
Costa e Santos, 2020; Jesus e Nardi, 2016, Pimenta e Lima, 2010), é um campo de conhecimento, facilitador da reflexão
crítica e da articulação entre a teoria e a prática, promovendo o desenvolvimento da práxis docente.
No âmbito de tais discussões, Jesus e Nardi (2016) ressaltam que a forma como o ES ocorre está diretamente
relacionada com o modelo formativo adotado pela IES e a compreensão entre a relação teoria e prática. Pimenta e
Lima (2010) discutem sobre as problemáticas relacionadas ao reducionismo do ES às perspectivas da prática
instrumental, ocasionadas, principalmente, pela separação entre teoria e prática, o que torna importante explicitar
que o ES faz parte da articulação entre teoria e prática. Concordando com as autoras, Ghedin (2006, p. 133) argumenta
que “a teoria e prática são processos indissociáveis. Separá-los é arriscar demasiadamente a perda da própria
possibilidade de reflexão e compreensão. A separação de teoria e prática se constitui na negação da identidade
humana”. Freire (2019) também traz discussões sobre a temática e argumenta que a teoria e a prática não podem ser
“mecanicistamente” desunidas. Sendo assim, evidencia-se a concepção de uma relação dialética entre teoria e prática,
como um processo inseparável e que ocorre simultaneamente.
Na busca por uma formação inicial e um ES que compreendam a relação teoria e prática de forma interligada e
interdependente, diversos pesquisadores (Freire, 2019; Ghedin, 2006; Pimenta, 2010) introduzem a discussão sobre
o conceito de práxis. Tal conceito é definido por Freire (2019, p. 52) como “a reflexão e ação dos homens sobre o
mundo para transformá-lo”, ao passo que Ghedin (2006, p. 133), em consonância, aponta que “a práxis é uma ação
final que traz, no seu interior, a inseparabilidade entre teoria e prática”. Ademais, segundo Pimenta (2010), a práxis é
a ação humana, teórico-prática, de transformação da natureza e da sociedade.
Neste sentido, o ES assume um papel importante na formação inicial de professores na perspectiva da práxis, uma
vez que, “o estágio é atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção da realidade, objeto
da práxis. Ou seja, é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá.”
(Pimenta e Lima, 2010, p. 45). Sob tal ótica, Leite, Ghedin e Almeida (2008) argumentam que o ES deve promover um
processo formativo que possibilite ao licenciando compreender a complexidade da práxis docente, entendendo o
professor como um ser histórico capaz de refletir criticamente sobre sua ação tomando como plano de fundo os
contextos políticos, sociais e culturais relacionados à realidade escolar e a sociedade.
Sendo assim, aponta-se a necessidade de um ES que possibilite o pensamento crítico e que auxilie na formação de
professores como intelectuais críticos, ou seja, que contribua para a compreensão do “papel que os professores
desempenham na produção e legitimação de interesses políticos, econômicos e sociais variados através das
pedagogias por eles endossadas e utilizadas” (Giroux, 1997, p. 161).
De acordo com Pimenta e Lima (2010), o ES possibilita que os futuros professores aprendam a profissão docente
ao transitar da universidade para a escola, uma vez que, é a partir desse movimento que os estagiários podem
aprender com os professores de profissão saberes necessários à docência e compreender as relações que se
estabelecem entre a educação, a cultura e a escola. Desta maneira, entende-se o ES como um campo do conhecimento
constitutivo da docência na formação inicial, pois é por meio dele que ocorre a mediação reflexiva-crítica entre a
universidade, a escola e a sociedade.
Sob tal cenário, ao pensar no desenvolvimento do ES no contexto de ensino remoto observa-se uma fragmentação
da formação inicial e torna-se importante
… reconhecer os processos polifônicos de formação para a docência no tecido da cultura escolar, assim convocados à
docência online e ao ensino remoto, como mais uma lente de nosso percurso formativo, no entendimento de que, dentre
tantos desafios, o ensino remoto não é transposição do ensino presencial. (Souza e Ferreira, 2020, p. 16)
Portanto, diante deste contexto, a relação com os pares de formação (professor formador e professor supervisor)
e as interações com os colegas estagiários e os alunos da educação básica precisam ser readequadas para o ambiente
virtual, de forma que essas vivências possibilitem ao futuro professor refletir criticamente sobre o papel docente como
ator de mudança e transformador da sociedade.
III. A ANÁLISE DE DISCURSO COMO REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO
Esta pesquisa é fundamentada pelo referencial teórico e metodológico da AD de filiação francesa, que tem como
principal mentor o teórico Michel Pêcheux. No Brasil, os conceitos relacionados à AD têm sido discutidos por diversos
pesquisadores, especialmente, pela professora e linguista Eni Orlandi.
Segundo Orlandi (2015), a AD, nesta perspectiva, se constitui a partir da articulação entre a Linguística, o Marxismo
e a Psicanálise e busca compreender como um objeto simbólico produz sentidos de acordo com os contextos históricos
e sociais. A Linguística parte do pressuposto da não transparência da linguagem, mostrando que a relação entre
linguagem, pensamento e mundo não é unívoca e direta. O Materialismo busca mediar a linguagem e a ideologia,