Laboratório de ciências em uma escola técnica
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 100
Alves Filho (2000) ao discorrer sobre o Laboratório Didático, enfatiza suas funções, prioridade no método
experimental no processo de ensino e aprendizagem, a importância para o fazer e o aprender, a maneira como essa
valorização do laboratório se perdeu ao longo do tempo e como resgatá-la. Destaca que, desde o ensino médio ao
universitário, iniciando na década de 1970 até a de 1980, o laboratório é visto como a solução de problemas, por
muitos autores. No artigo, discorrem, ainda, sobre como atividades experimentais investigativas promovem situações
atípicas, as quais assombram a previsão perfeita que deveriam trazer antes da concretização do ato de pesquisar.
A motivação também é posta em discussão pelos autores, os quais explicam que muitos discursos de motivação
pelas atividades experimentais foram sustentados pelo empirismo-indutivismo, em que a aprendizagem “ocorria pela
descoberta, através da repetição de um experimento” (Gonçalves e Galiazzi, 2004, p.243). Assim, uma das críticas
elencadas pelos autores é o pequeno número de alunos que segue profissões científicas. O trabalho também
apresenta uma discussão sobre o discurso de professores de Ciências sobre a ausência da experimentação em sala de
aula, elencando considerações como a precariedade de infraestrutura devido à falta de materiais e espaço físico
adequado. Ou seja, os resultados evidenciam uma concepção muito comum entre os professores de Ciências, a
necessidade de espaço físico específico para a realização de atividades experimentais.
III. METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta pesquisa insere-se no âmbito das denominadas pesquisas sociais, as quais, segundo Flick (2013), abordam
questões de maneira sistemática, acima de tudo empíricas, com levantamento de dados utilizando determinados
métodos; podendo os resultados serem generalizados além da situação, exemplos estudados possibilitando
explanações e descrições do fenômeno estudado.
A pesquisa foi realizada no contexto de uma escola técnica de ensino médio integrado ao ensino técnico no interior
do estado de São Paulo, Brasil. Esta escola faz parte de uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo, vinculada
à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, e que está presente em 368 municípios, perfazendo um total de 223
Escolas Técnicas e 73 Faculdades de Tecnologia estaduais, com mais de 322 mil alunos em cursos técnicos de nível
médio e superior tecnológicos. Este sistema de ensino, desde a sua criação, esteve voltado para atender à necessidade
de mão de obra local e regional, o qual sempre coadunou com a principal finalidade das escolas técnicas, uma
educação direcionada para o mundo do trabalho.
A escola técnica em que a pesquisa foi realizada oferece dois (02) dos 33 cursos técnicos integrados ao ensino
médio do estado de São Paulo. Em 2012, a modalidade integrada ficou conhecida como Ensino Técnico Integrado ao
Médio em Informática (ETIM) e a escola passou a oferecer: ensino médio; Habilitação Profissional de Técnico em
Administração, em Informática, em Logística, em Nutrição e Dietética, em Contabilidade; Habilitação Profissional
técnica de nível médio de Técnico em Informática para Internet e Ensino Técnico Integrado ao Médio em Informática.
Sendo de natureza técnica, os laboratórios oferecidos sempre atuaram em função da formação profissional
oferecida. No entanto, com o oferecimento do ensino médio e o desejo do diretor da escola em ter um espaço para o
desenvolvimento de atividades experimentais, que proporcionasse aos estudantes construírem uma melhor
articulação entre teoria e prática, que possibilitasse uma formação científica, que os despertasse para pensar a relação
entre a Ciência e as questões sociais fez com que, no ano de 2018, fosse iniciada, pela primeira vez, a experiência de
organizar o laboratório de Ciências na escola. Essa primeira experiência ocorreu de forma multidisciplinar, sendo as
atividades experimentais desenvolvidas no âmbito das disciplinas ainda de maneira muito isolada. Já no ano de 2019,
o laboratório foi novamente repensado por professores e gestores a partir do desenvolvimento de projetos
interdisciplinares. Participaram do projeto do laboratório de Ciências a professora de Química (P1), o professor de
Biologia (P2), o professor de Física (P3), a professora de nutrição, que atuou durante um período na coordenação
pedagógica (P4), a professora de matemática, que substituiu a coordenadora pedagógica anterior (P5) e o diretor da
escola (P6). Todos estes foram considerados participantes nesta pesquisa por estarem diretamente ligados ao
laboratório de Ciências e ao desenvolvimento de atividades experimentais.
A pesquisa foi inicialmente pensada para fazer uso de entrevista semiestruturada como instrumento de registro
de dados. Contudo, com o advento da pandemia provocada pela covid-19, as perguntas foram encaminhadas aos
participantes, após uma reunião on-line via aplicativo do Google meet, que entenderam ser melhor responderem
dentro de um prazo estipulado e posterior devolução. Dessa forma, a entrevista acabou sendo alterada para
questionário e, além das respostas ao questionário, os dados também foram constituídos por meio de documentos e
gravação em áudio de reunião realizada no início da pesquisa sobre a organização do laboratório de Ciências.
Os dados foram organizados e sistematizados por meio da Análise de Conteúdo, segundo Moraes (1999). Essa
forma de sistematizar os dados tem sido muito utilizada em abordagens qualitativas fazendo uso da indução e a
intuição como estratégias para que sejam atingidos níveis de compreensão em que se propõe o aprofundamento do
que é investigado.