A visualização como referencial teórico-metodológico
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 135
Considerando esse contexto teórico de entrelace entre os aspectos cognitivos e a visualização como alicerce para
as experiências visuais no ensino, podemos então considerar um novo direcionamento para a exploração de atividades
virtuais desenvolvidas e implementadas por meio das tecnologias digitais. Nesta perspectiva, ferramentas virtuais de
aprendizagem, como por exemplo simulações, podem favorecer as experiências visuais dos estudantes de modo a
contribuir para o desenvolvimento e construção de seu conhecimento. As simulações apresentam um gama de possi-
bilidades de exploração de objetos de visualização que podem auxiliar nas experiências visuais de estudantes, para
que os mesmos construam posteriormente suas imagens visuais externas (externalizações) de modo mais efetivo e
cientificamente correto sobre modelos conceituais que exigem alto grau de abstração.
Buscar essa nova abordagem para o uso de atividades virtuais baseada em teorias que apoiem as experiências
visuais é fundamental, considerando que há uma falsa suposição, por parte dos professores, de que as representações
presentes nas atividades computacionais bastam ser vista pelos estudantes, e tão logo, eles serão capazes de compre-
ender os conteúdos abordados (Araújo e Veit, 2008). Desse modo aliar a visualização à exploração de simulações se
mostra um passo necessário na área de ensino de ciências, considerando ainda que esta área apresenta modelos com
elevado grau de abstração, o que direciona para uma maior utilização de atividades virtuais que oferecem imagens
visuais no contexto do ensino.
Entre os tópicos discutidos em ciências, o de modelos atômicos vem sendo debatido em pesquisas mostrando um
cenário com construções de concepções equivocadas por parte dos estudantes de diferentes níveis, como por exem-
plo, de que o átomo realmente possa e tenha sido visto, acarretando na ideia de materialidade (Harrison e Treagust,
1996), e ainda que as características do objeto formado por ele, como a cor, correspondem a real coloração do átomo
(Netzell, 2014 apud Albanese e Vincentini, 1997). Essas concepções podem estar associadas ao fato de os estudantes
entenderem que as representações utilizadas no ensino são realistas, evidenciando uma abordagem falha quando se
trata das representações utilizadas para descrever e explanar o conceito de átomo. Outro aspecto discutido em um
estudo relacionado ao modelo atômico é que normalmente os estudantes escolhem representações que se aproximam
muito as disponibilizadas em livros e mídias como a televisão (Fukui e Pacca, 2009), porém as imagens apresentadas
em alguns livros mostram certa desproporcionalidade em relação ao núcleo, o que acarreta em equívocos em discus-
sões relacionadas a transição de fases da matéria (Adbo e Taber, 2009).
Considerando que o tema perpassa diferentes áreas de ensino, as concepções equivocadas discutidas nas publica-
ções da área, que é um conceito de alto nível de abstração o que exige de o professor lançar mão de imagens e cons-
truções pictóricas, ou seja, no qual as experiências visuais realmente podem favorecer construções conceituais
corretas, sua escolha se mostra um espaço de discussão relevante como pesquisa. E se torna ainda mais importante
quando aliado a exploração de uma simulação relacionada ao tema.
II. A SIMULAÇÃO E O FAVORECIMENTO DAS EXPERIÊNCIAS VISUAIS
A escolha da simulação foi pensada com base nas características que elas ofereciam ao ensino do conteúdo de modelos
atômicos, e nessa direção as atividades desenvolvidas pelo grupo Physics Education Technology Project (PhET) associ-
ado à Universidade do Colorado, são construídas considerando preceitos educacionais importantes, envolvendo a par-
ticipação de uma equipe focada em oferecer atividades que sejam utilizadas em contexto escolar. Assim, as simulações
já mostram um perfil educacional, desse modo buscamos integrar, então, a visualização como princípio teórico-meto-
dológico para explorar uma simulação de modo a avaliar as experiências visuais propiciadas aos estudantes. Sendo
assim, foi selecionada a simulação Modelos do Átomo de Hidrogênio disponibilizada gratuitamente no modo online
ou offline, e que já traz um ponto importante discutido em pesquisas que debatem as concepções dos estudantes
sobre o átomo, ligada a dificuldade que os mesmos possuem em transpor esse conceito para outros momentos de
ensino (Alves, Santos e Lima, 2015), sendo sugerido que seja abordado de forma mais integrada (Vasconcellos, Rodri-
gues e Gomes, 2016) aplicada a um elemento químico por exemplo, como no caso da simulação que aborda a evolução
dos conceitos na perspectiva do átomo de Hidrogênio. Nessa mesma direção, a simulação traz ainda a opção de dis-
cussão do experimento de espectroscopia de modo isolado e depois com base nos modelos atômicos.
A simulação oferece uma gama de objetos de visualização (analogia, pictórico, animação, diagrama esquemático,
interatividade) e diferentes funções que podem ser usadas. Considerando os preceitos da visualização, de que os
estudantes precisam entender os objetos de visualização por meio de instrução direta, abordar os objetos de visuali-
zação em etapas distintas é fundamental, assim como oferecer instrução direta sobre as funções da simulação, evi-
tando a sobrecarga de informação conceitual e visual, o que influencia diretamente na experiência visual dos
estudantes. Desse modo foram definidos cinco momentos de abordagem do conteúdo a partir da exploração da si-
mulação, considerando os objetos de visualização para cada etapa.