Formação de professores de física no Brasil
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 154
Além disso, o ingresso dos discentes na educação básica também apresentou problemas. Em 1991, apesar do Brasil
ter uma população com idade entre 15 e 17 anos igual a 9,3 milhões, o número de matrículas no ensino médio (nível
educacional destinado à população com essa idade) era de 3,7 milhões, dos quais 2,0 milhões eram de adultos. Ou
seja, apenas cerca de 1,6 milhões de jovens com idade para se matricular nesse nível de ensino estava realmente no
ensino médio (Lima, 2011).
No final do século XX, com a redemocratização, mudanças políticas e econômicas trouxeram mudanças em diver-
sos setores da sociedade, mas a educação continuou abandonada à sua própria sorte, apesar das numerosas políticas
implementadas para a melhoria quantitativa e qualitativa da formação de professores. Dentre elas, é possível citar o:
• Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES): criado em 1999, teve por objetivo financiar a
matrícula dos alunos no ensino superior privado por meio de empréstimos;
• Programa Universidade para Todos (PROUNI): criado em 2005, também financiou o estudante do ensino superior
privado, mas por meio de bolsas de estudo;
• Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI): iniciado em
2007, esse grande programa financiou a ampliação do ensino superior público como um todo,
• Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência): financiou projetos universitários voltados para a for-
mação de professores;
• Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs): os quais passaram, a partir de 2008, a atuar, também,
como centros de formação de professores;
• Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB): criado em 2005, financiou a ampliação da educação pública, prio-
ritariamente para formação de professores, na modalidade a distância visando, dentre outros aspectos, a interioriza-
ção do ensino superior;
• Plano Nacional de Formação de Professores (PARFOR): o qual financiou a formação de professores leigos da
educação básica em cursos de licenciatura abertos exclusivamente para esse público em instituições de ensino supe-
rior público;
• Mudanças na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES): cuja competência e es-
trutura organizacional foi alterada para poder atuar na formação de professores (Brasil, 2007);
• Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES): iniciado em 2007, financiou bolsas a seus
participantes, principalmente alunos de cursos de licenciatura, em projetos que aproximam a universidade pública da
educação básica.
Conhecer os resultados obtidos com essas políticas e detalhar as estatísticas de formação de professores de física
no Brasil é importante na medida em que é possível mensurar o impacto dessas medidas no enfrentamento dos pro-
blemas que assombram o país desde o século passado, contribuindo para a solução do problema da carência de pro-
fessores para a educação básica e a formulação de novas políticas públicas. Nesse contexto, esse trabalho tem como
objetivo a coleta e a análise de dados quantitativos dos cursos de Licenciatura em Física do Brasil identificando,
quando possível, as categorias administrativas e as modalidades de ensino.
II. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Essa foi uma pesquisa documental com uma abordagem quantitativa, se apresentando como um estudo descritivo
(Hernández Sampieri, Fernández Collado e Baptista Lucio, 2013). As fontes de dados foram os documentos disponibi-
lizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) intitulados Sinopses Estatís-
ticas da Educação Superior – Graduação (INEP, 2020).
Esses documentos apresentam informações a respeito de todos os cursos de nível superior do Brasil, sendo possí-
vel identificar os cursos de Licenciatura em Física. Os dados coletados foram o total de vagas, candidatos, ingressos,
matrículas e concluintes no período compreendido entre 2000 e 2019 segundo a natureza administrativa e a modali-
dade de ensino, os quais foram organizados em uma planilha eletrônica. Esse período foi escolhido porque o INEP não
distinguia as categorias administrativas ou a Licenciatura do Bacharelado antes do ano 2000. Além disso, sempre que
possível foram identificadas as categorias administrativas e a modalidade de ensino associadas a esses dados.
Os dados coletados foram submetidos a dupla conferência. Em seguida, foram calculadas as vagas ociosas:
(1)
As taxas de evasão foram obtidas a partir da equação adotada por Hoed (2016):