Linguagem como facilitadora
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 3 (2021) 268
I. INTRODUÇÃO
Em sala de aula, o processo de ensino e aprendizagem perpassa pela linguagem e pelas práticas construtivas nas
relações entre professor e aluno, formadas por características e identidades sociais. A partir da fala se estabelecem
relações e compartilham-se discursos e saberes que, ao longo da prática escolar, precisam ser mais valorizados e
desenvolvidos de maneira a colaborar ativamente na formulação de conhecimentos e ideias.
As orientações curriculares nacionais muito têm contribuído para um ensino de Física no ensino médio, de maneira
mais reflexiva e interdisciplinar. Nesse cenário, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na área de Ciências da
Natureza e suas Tecnologias possui alguns pressupostos:
...contribuir com a construção de uma base de conhecimentos contextualizada, que prepare os estudantes para fazer julga-
mentos, tomar iniciativas, elaborar argumentos e apresentar proposições alternativas (...). O desenvolvimento dessas prá-
ticas e a interação com as demais áreas do conhecimento favorecem discussões sobre as implicações éticas, socioculturais,
políticas e econômicas de temas relacionados às Ciências da Natureza. (Brasil, 2018, p. 537)
Nesse contexto, para dar significados e contextualizar as aulas de Ciências, é imprescindível que o professor crie
condições para que os alunos possam explorar os diferentes modos de pensar e de falar da cultura científica, situando-
a como uma das formas de organização do conhecimento produzido em diferentes contextos históricos e sociais,
possibilitando-lhes apropriar-se dessas linguagens específicas, como reforça Brasil (2018). Nessa perspectiva, o ensino
de Física não pode abandonar a presença da história da física, da filosofia e da sociologia da ciência e sua ligação com
outras áreas da cultura, como literatura, letras de música, artes plásticas, cinema, teatro, entre outras linguagens,
como aponta Zanetic (2006).
A partir dos resultados dos estudos que vimos desenvolvendo em nosso grupo de pesquisa XXXX, tendo como
tema central a investigação dos recursos para os processos de ensino e aprendizagem de conteúdos e temas vincula-
dos à Física, e também da prática docente dos autores deste trabalho, temos a nítida noção de que ensinar Física vai
muito além de apresentar experimentos, é preciso, também, desenvolver um processo de linguagem que irá facilitar
a comunicação entre professor e aluno, permitindo espaço para a fala dos estudante seja para tirar dúvidas ou expor
suas ideias e teorias.
Essa proposta trouxe como diferencial o fato de pensar também em alunos com e sem deficiência visual, refor-
çando a importância da linguagem para este público, visto que até para apresentar um recurso tátil-visual de deter-
minado conteúdo é preciso que se estabeleça uma comunicação que facilite a aprendizagem científica.
Desse modo, neste artigo, temos como objetivo apresentar o estudo de como a linguagem pode facilitar a apren-
dizagem desses estudantes. Para isso, discutimos sobre a linguagem a partir de dois referenciais teóricos, Teoria Sócio-
histórico-cultural desenvolvida por Vygotsky e a Teoria do Discurso dialógico por Bakhtin. Na sequência, abordamos
sobre o desenvolvimento da linguagem nas aulas de física, estabelecendo a relação entre deficiência visual e os recur-
sos de comunicação, para, em seguida, tratarmos de algumas possibilidades de práticas educativas baseada na orali-
dade e interação, com algumas estratégias de atividades que desenvolvam uma cultura científica.
II. LINGUAGEM
É por meio do desenvolvimento da linguagem que o pensamento pode se constituir, facilitando a aprendizagem do
aluno, seja em sala de aula ou em espaços não-formais. Nestes ambientes, há uma multiplicidade de falas acontecendo
ao mesmo tempo, seja verbal ou não-verbal. Essas abordagens conferem à linguagem uma natureza social, cultural e
histórica dos sujeitos que fala e interagem.
Quando há essa possibilidade de fala e de troca de experiências, o aluno passa a ser visto como sujeito de intera-
ção, capaz de “transitar” por diferentes discursos (oral, escrita ou visual) para construir sua própria linguagem. Para o
professor, é preciso um planejamento contextualizado que permita a exploração do conteúdo por meio da linguagem
e o papel desse docente será de mediador deste conhecimento. Assim, a linguagem adquire função primordial nas
relações entre professor e aluno, corroborando com essas ideias, utilizamos Vygotsky e Bakhtin como referenciais
para o estudo da linguagem.
A partir das análises teóricas dos autores, Vygotsky e Bakhtin, afirmamos que ambos defendiam que o processo
de ensino-aprendizagem era mediado pela linguagem. Assim, buscamos respostas sobre: como a linguagem facilita o
processo de aprendizagem? Quais as metodologias ou adequações necessárias para a construção de uma linguagem
científica? Neste estudo, apresentamos um recorte de uma de nossas pesquisas, sobre a aliança das teorias de
Vygotsky e Bakhtin, por contribuir para a exploração e um diálogo com as questões acima explicitadas.