Avaliação via utilização de mapas conceituais
www.revistas.unc.edu.ar/index.php/revistaEF
REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 302
I. INTRODUCÃO
Nas décadas finais do século passado, diversos educadores se debruçaram sobre o problema da avaliação. O combate
ao fracasso escolar constituiu-se numa das perspectivas para a construção de uma Educação de qualidade para todos
no Brasil. Pesquisas sobre o tema nortearam os estudos de pós-graduação, gerando desaprovação àquela chamada
educação bancária, criticada fortemente por Freire (2019). Destaca-se aqui o trabalho seminal de Luckesi (2000), o
qual criticou a prática de avaliação escolar que era desenvolvida no país como sendo, em seu entender, uma manifes-
tação e exacerbação do autoritarismo, resquício de uma pedagogia do medo. Segundo Luckesi (2000, p. 24), uma vez
que esse medo seja internalizado, constitui-se num excelente freio às ações que são supostamente indesejáveis, seja
pelo Estado, pela Igreja, família ou escola. Como alternativa a esse modelo, Luckesi propôs a pedagogia da aprendiza-
gem escolar como um ato amoroso (id., p. 168). Para ele, a avaliação se destina ao diagnóstico e, em consequência
disso, à inclusão. Nesse sentido, dedica-se à melhoria do ciclo de vida, o que justifica o adjetivo dado ao ato de avali-
ação alicerçado nas funções de propiciar a autocompreensão do educando e também do educador, motivar o cresci-
mento do educando, aprofundar e auxiliar a aprendizagem (LUCKESI, 2000, p. 175-176).
Na virada do século, os educadores brasileiros tiveram sua formação influenciada por autores europeus que inves-
tigavam com profundidade o tema da avalição. Desse período, pode-se citar Perrenoud (1999) que questionava se a
avaliação deveria estar a serviço da seleção ou das aprendizagens. Em seus trabalhos, ele defendia que a avaliação
deveria se nortear no caminho da excelência e do êxito escolares. Para tal, ele propôs um trabalho sobre as verdadei-
ras competências, avaliação contínua e uma pedagogia diferenciada (Perrenoud, 1999, 2000).
Da mesma forma, nesse período, os trabalhos de Hadji (2001) defendiam que avaliar não é medir, porém confron-
tar, em um processo de negociação, uma situação real e expectativas referentes a essa situação. Sua proposta conce-
bia a regulação como um processo caracterizado pelo esquema (ação → (feedback → julgamento) → ajuste), o qual
evidencia que a avaliação “é apenas um momento em um processo geral de condução da ação, mas, de outro, que
esse momento é decisivo” (HADJI, 2001, p. 130).
No início deste século, Machado (2002, p. 7) defendeu a avaliação do ponto de vista de projetos e valores, cons-
truindo, dessa forma, uma práxis que consiga “preencher o espaço vazio entre o discurso e a ação, semeando projetos,
que visem efetivamente à construção da cidadania através da educação”. Seu discurso foi inserido numa visão de
respeito efetivo aos direitos humanos. Machado (2006) propôs uma pedagogia de projetos, alicerçados nos valores
de cidadania, profissionalismo, tolerância, integridade, equilíbrio e pessoalidade. No paradigma proposto, a avaliação
tem como meta desenvolver no educando habilidades e competências, deixando de ser um instrumento meramente
classificatório para ser um instrumento de mediação de competências. Assim, a avaliação passa a ter como meta for-
talecer uma aprendizagem não-linear, interdisciplinar e contextualizada.
Mais recentemente, Moretto (2004, 2014) desenvolveu um método visando operacionalizar uma aula com sucesso
e avaliar com eficácia e eficiência. Seu modelo pressupõe os seguintes referenciais teóricos (Moretto, 2014, p. 9-10):
(a) Planejamento de ações pedagógicas do professor com base no paradigma da educação para o
desenvolvimento de competências;
(b) Opção epistemológica na perspectiva construtivista sociointeracionista;
(c) Ação pedagógica do professor como interação entre o sujeito cognoscente e os saberes socialmente
construídos;
(d) Processo de abordagem e solução de situações complexas fundamentado no modelo pedagógico do
desenvolvimento de competências.
Na perspectiva do Modelo VM (Vasco Moretto), a construção do conhecimento na visão epistemológica
construtivista sociointeracionista tem como base a linguagem e seu apoio metodológico na dialética. Assim, na relação
de reciprocidade professor-aluno, estão presentes dialeticamente as Concepções Prévias do aluno (CP), sujeito a quem
se quer ensinar algo, e Concepções Escolares (CP), objetos de conhecimento que a escola pretende que o aluno
aprenda (MORETTO, 2014, p. 89). Dessa maneira, conforme o autor esclarece, durante o processo de ensino, a
argumentação e a contra-argumentação permitem que o aluno reconstrua (ressignifique) conceitos já aprendidos,
com a mediação do professor por intermédio da linguagem.
A interação entre professor e aluno apresenta-se como única, posto que, nesta perspectiva, o conhecimento é
uma construção individual, mediada pelo social. Na negociação de significados, deve-se levar em conta que “a
educação não deve estar focada no aluno e nem no professor, mas na dinâmica das relações entre alunos, professores
e saberes socialmente construídos, objetivados, institucionalizados e legitimados” (MORETTO, 2014, p. 90). Segundo
argumenta o autor, o que importa no processo são as relações. Desse modo, o autor enfatiza que nestas relações se
manifestam “valores e conhecimentos que expressam projetos individuais e sociais. Nesta relação, professor e aluno
ensinam e aprendem num processo de interação e juntos modificam e constroem saberes sociais” (id.).