Práticas de Avaliação em Física em Cursos de Engenharia
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 322
A figura 1 revela que houve unanimidade dos estudantes quanto à sua percepção de relevância somente em rela-
ção a duas estratégias avaliativas: i) análise de simulações e experimentos virtuais e ii) feedbacks das avaliações. É
possível afirmar que, ao compreenderem o objetivo e a importância desse tipo de devolutiva para identificar lacunas
ou dificuldades de aprendizagem, os alunos reconhecem esse processo como fundamental para monitorarem e aper-
feiçoarem seus processos de desenvolvimento. Entrecruzando-se essa percepção com aquelas atinentes às rubricas, é
possível afirmar que esses estudantes compreenderam que a rubrica é um dos dispositivos de feedback, sendo avali-
ada como relevante ou muito relevante por 22 dos 23 respondentes.
Quanto aos quizzes just in-time (de feedbacks imediatos), cabe registrar que já eram utilizados pela docente nas
aulas presenciais. No entanto, com a pandemia, a inclusão desse tipo de recurso foi mais frequente, atendendo a
diferentes finalidades. Podem ser aplicados no início das aulas, para monitorar o grau de compreensão de conteúdos
previamente oferecidos aos estudantes (sala de aula invertida); após ou durante a explicação de tópicos, o que favo-
rece o engajamento e aumenta a atenção dos estudantes (Funnell, 2017); como estratégia avaliativa, fornecem feed-
backs em dupla via – tanto para estudantes quanto para professores, ou ainda, como estratégia de avaliação sobre as
aulas, já que permitem anonimato aos estudantes (caso do www.mentimeter.com, por exemplo). A boa aceitação e
engajamento dos estudantes a esse tipo de ferramenta foi percebida nas aulas, o que é consistente com as vantagens
de ferramentas ARS (Web-based audience response system), elencadas em estudos como o de Funnell (2017).
As provas, mesmo com sua utilização e finalidades ainda controversas (Santo, Luz, 2012; Irala, Blass, Junqueira,
2021), foram consideradas relevantes (6) ou muito relevantes (15) por 21 respondentes. Esse resultado pode ser ex-
plicado por alguns fatores. Um deles diz respeito a que os estudantes estejam condicionados a uma cultura de avalia-
ção com foco em aferição de notas, em que a prova é tida como um dos instrumentos (pretensamente) mais objetivos
e confiáveis, a qual o aluno geralmente responde sem apoio de quaisquer materiais ou recursos e, portanto, seriam o
melhor instrumento para mensurar com maior fidedignidade o desempenho e as aprendizagens dos estudantes. Nesse
sentido, Irala, Blass e Junqueira (2021, p. 56) ponderam que “o desempenho durante o processo de instrução formal
pode ser, inclusive, um índice pouco confiável de que foi alcançada uma aprendizagem efetiva e a longo prazo”. Outro
fator que pode estar associado a essa valorização das provas é que elas sejam a estratégia de avaliação mais largamente
utilizada pelos professores e com as quais os estudantes têm maior contato ao longo de sua trajetória de formação.
Uma análise transversal da figura 1 indica outro aspecto que merece destaque. Entre os estudantes, prevalece uma
percepção de que a maioria das práticas avaliativas são relevantes ou muito relevantes. A exceção está na produção
de vídeos e de áudios, nos quais 14 e 12 alunos, respectivamente, consideraram essas estratégias como nada ou pouco
relevantes para monitoração de aprendizagens. A prevalência de percepções positivas pode estar associada ao fato de
que a escolha das estratégias avaliativas, as orientações e critérios propostos, os níveis de exigência e desempenhos
esperados foram cuidadosamente planejados pela docente, balizados por uma concepção de avaliação com ênfase na
evolução das aprendizagens. Os diálogos estabelecidos com as turmas, ao longo dos períodos letivos, podem ter favo-
recido que os estudantes entendessem outros papeis possíveis para as práticas avaliativas, além da aferição de notas.
Os estudantes também foram convidados a avaliar a relevância dessas mesmas práticas avaliativas para fornecer
feedback sobre sua aprendizagem ao professor. A distribuição das respostas é apresentada na figura 2.
Em relação a oferecer feedback ao professor, percebe-se que (i) feedback das avaliações, (ii) simulações e experi-
mentos virtuais, (iii) provas, (iv) rubricas e (v) quizzes mantêm praticamente os mesmos escores de percepção de rele-
vância ou muita relevância daqueles atribuídos em relação à monitoração das aprendizagens. No caso das provas,
ocorreu pequena variação, o que sugere que os alunos avaliam-nas como mais relevantes para autorregulação do que
como mecanismo de feedback ao professor.
Essa convergência de percepções em relação às práticas avaliativas implementadas – para autorregulação da apren-
dizagem e fornecimento de feedback ao docente - sugere que os estudantes compreendem esses papeis da avaliação
como complementares, ambos importantes à regulação e retroalimentação dos processos de ensino e de aprendiza-
gem. Assim, é possível inferir que os alunos, de alguma forma, constroem sentidos e atribuem valor para as avaliações
a partir das experiências que vivenciam em seus processos formativos, assim como ocorre com muitos professores
universitários, que tendem a replicar as práticas avaliativas utilizadas em sua própria formação (Santo e Luz, 2012).
Outro aspecto a salientar é que a construção de uma nova cultura de avaliação entre os estudantes, - voltada para
avaliar as aprendizagens e para regular os processos de planejamento e de ensino -, passa necessariamente pela cons-
trução dessa nova cultura entre os professores. Do ponto de vista docente, é possível supor que a autoanálise da
própria prática, retroalimentada pelos feedbacks estudantis, é condição essencial para professores que querem inovar
e melhorar o trabalho em sala de aula. Esse ensaio, baseado em um contexto concreto de prática de ensino, vai ao
encontro das conclusões de Cazzanelli et al. (2020), em que o diagnóstico do trabalho realizado e do processo de
aprendizagem atuam como um impulsionador constante do ensino e da aprendizagem.