Estudo de caso sobre a formação docente
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 330
A questão vinte pergunta “No que se refere às disciplinas de cunho mais pedagógico, relacionadas ao ensino de
Física como, por exemplo, as disciplinas de Estágio e INSPE, você considera que elas forneceram o suporte necessário
para uma vivência dentro da realidade escolar, com o efetivo preparo do futuro docente? Comente sua resposta.”. A
maior parte dos egressos respondeu que “sim”, salientando as contribuições das disciplinas de INSPE e Estágio, mas
alguns destacam que nenhuma disciplina oferece todo o suporte necessário, visto que a vivência da realidade escolar
se dá pela prática docente.
Porém outra questão foi levantada, a dificuldade na realização dos estágios que são realizados em unidades esco-
lares fora do campus da Universidade. As escolas nas proximidades da UFSC possuem uma grande demanda, que não
é suficiente para atender a todos os alunos.
Sobre a segurança oferecida por essas disciplinas para o planejamento de novas práticas pedagógicas questionada na
pergunta seguinte, a maior parte dos egressos respondeu que “sim”, citando geralmente a disciplina de INSPE no que se
refere à produção de materiais necessários durante o curso, e que são utilizados hoje em sua prática docente (Egresso
C). O motivo mais citado na pergunta vinte e um, referente a segurança fornecida pelas disciplinas de cunho pedagógico
no planejamento de novas práticas, foi a questão da ampliação de horizontes, pensar e investigar diferentes estratégias
para que o ensino e a aprendizagem ocorram da melhor forma possível (Egresso F). Cita-se ainda que estas disciplinas
ensinam o professor a ser um pesquisador, e que apresentam metodologias complementares e não substitutivas. A uti-
lização de metodologias provenientes de outros países, poderiam dar um arcabouço e repertório melhores para que os
licenciados tenham segurança nas metodologias que já conhecem e na elaboração de suas próprias (Egresso B).
A última pergunta do questionário, questão vinte e dois, queria saber que tipo de melhorias poderiam ser realiza-
das nestas disciplinas para dar conta das demandas relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem de Física e do
contexto educacional de modo geral. As respostas versaram sobre as melhorias no sentido das questões didático-
metodológicas dos professores e maior referencial teórico como: Skinner, Piaget, Vygotsky, Ausubel, Freire, etc., e
como aplicá-las em sala de aula (Egresso G). Os professores das disciplinas precisam abordar de forma mais consis-
tente e aprofundada a fenomenologia dos conceitos para que os graduandos possam se deparar com suas concepções
alternativas e efetivamente enfrentá-las para aperfeiçoar seu conhecimento.
As disciplinas de metodologia precisam de maior repertório e possibilidades, pois há muitas opções sendo aplica-
das no mundo com resultados excelentes que nem vimos na graduação e nem tivemos a oportunidade de analisar de
forma alguma (Egresso B) Falou-se também sobre a existência de um estágio mais amplo, onde o aluno pudesse acom-
panhar uma mesma turma por mais tempo, percebendo suas nuances e desafios diários dos professores. “A fragmen-
tação atual, me parece falha” (Egresso C).
Apesar de estarem estreitamente relacionadas, ensino e aprendizagem são coisas diferentes. Ensinar é garantia de
aprender? Como os alunos aprendem? Cada um aprende do mesmo jeito, são afetados pelas mesmas coisas, têm os
mesmos interesses? Não. Então, se não há apenas uma forma de se aprender, também não há apenas uma forma de se
ensinar. E essas disciplinas não dão conta disso (Egresso I). Por fim, o egresso K cita a utilização da sala de informática,
que geralmente só é utilizada nas disciplinas de Física Computacional, e dos laboratórios de ensino da UFSC.
Grande parte das respostas versam em torno de algo comum para a evasão de cursos superiores na área de exatas,
que parecem concordar com Arruda e Ueno (2003, p. 433-434), ao observar que “[...] a permanência do aluno no
curso parece depender: da relação que ele estabelece com a Física enquanto atividade, [...] enquanto teoria explica-
tiva geral, [...] e da relação que ele estabelece com os outros, pessoas significativas em sua vida”. Tendo em vista o
exposto nesta análise da pesquisa, é possível traçar um panorama que aborde as considerações finais deste trabalho
e suscite possíveis estratégias para o enfrentamento dos desafios citados.
IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise das respostas, é possível observar um panorama das dificuldades enfrentadas pelos estudantes. Primeira-
mente no que se refere a escolha do curso: a licenciatura no Brasil atualmente não é uma carreira atrativa, seja pela
questão financeira ou pelo status social. Quanto a dificuldade de aprendizagem nas disciplinas das fases iniciais, os egres-
sos apontam que possuíam uma base deficitária, com inúmeras carências de conhecimentos na área da física e principal-
mente na matemática. Nosso modelo de ensino básico contém grande quantidade de conteúdos para serem trabalhados
em um curto período, a consequência disso é o não aproveitamento dos alunos. Nesse acúmulo de conteúdos não assi-
milados por completo, o aluno chega ao ensino superior defasado. Ao se deparar com disciplinas que exigem o conheci-
mento de três anos do ensino médio em apenas um semestre, como por exemplo, cálculo I, o aluno não vê saída, pois
não sabe como estabelecer uma rotina de estudos que seja capaz de recuperar o que foi perdido, nem como funciona a
dinâmica de ensino e avaliação no ensino superior. Um aspecto que nos dá esperança, é o fato da universidade ter ob-
servado tais demandas e iniciado a busca por soluções. Cabe citar as monitorias oferecidas pelos cursos, com o aumento
na quantidade de monitores e horários, e os grupos de apoio dentro dos centros acadêmicos.