Desenvolvimento de uma proposta experimental
I. INTRODUÇÃO
Para Nardi (2004) o movimento de reformulação curricular ocorrido entre as décadas de 1950 e 1960 nos Estados
Unidos da América e na Inglaterra marcam o início das primeiras pesquisas em Ensino de Ciências, assim, nesses 70
anos de trabalho, essa área de pesquisa tem como consenso a importância das atividades experimentais como
instrumento de ensino e de aprendizagem de conceitos científicos.
Para os piagetianos a experimentação é proposta como atividade desequilibrante, ou seja, permite ensejar situações
que desequilibram as estruturas cognitivas dos estudantes, tendo em vista a possibilidade dos alunos poderem
manipular, explorar, rever e aí promoverem modificações de esquemas mentais já construídos (Piaget, 1975).
Na perspectiva dos vigotskianos, as atividades experimentais podem permitir o desencadeamento de oportunas
interações sociais entre os alunos e destes com o professor sobre o objeto do conhecimento. Nesse sentido, a interação
social estabelecida dentro da zona de desenvolvimento proximal dos aprendizes com um parceiro mais experiente na
cultura científica, possibilita a formação de significados culturais dos conceitos científicos (Vigotski, 1991).
Autores diversos chamaram a atenção para outros benefícios das atividades experimentais:
Oliveira (2010) destaca que a experimentação motiva os estudantes para a aprendizagem, desenvolve a
capacidade de trabalhar em grupo, a iniciativa pessoal e a tomada de decisão, estimula a curiosidade, a criatividade,
a capacidade de observação, possibilita o aprendizado sobre a natureza da Ciência, dos conceitos científicos, sobre
métodos de coleta, tratamento e apresentação de dados, além de aprimorar habilidades manipulativas.
Gil Perez et al. (1999) e Krasilchik (2005), afirmam que as atividades experimentais auxiliam no desenvolvimento
da capacidade dos alunos em enfrentar e solucionar situações-problemas.
Capecchi, Carvalho e Silva (2002) e Monteiro e Teixeira (2004) destacam as atividades experimentais como
estratégias importantes para os alunos aprenderem a considerar, avaliar e construir explicações, bem como
argumentos de natureza científica, a partir do estabelecimento da relação de causa e efeito.
Contudo, apesar de todas essas contribuições constatadas em pesquisa, muitas escolas, em especial no Brasil,
raramente utilizam essa importante estratégia de ensino.
Autores como Borges e Gomes (2005), Neves et al. (2006), Lopes (2007), Ramos e Rosa (2008) e Pena e Ribeiro
Filho (2009) afirmam que existem diferentes motivos para que essas atividades não sejam realizadas em nossas
escolas, dentre eles citamos: falta de laboratório adequado, carga-horária pequena para as disciplinas científicas,
muitos alunos por turma, falta de docentes preparados para o desenvolvimento das atividades, falta de tempo dos
professores para preparar, montar e reparar os equipamentos experimentais.
Segundo Censo escolar de 2016 do Ministério da Educação (Brasil, 2017), em apenas 11% das escolas (públicas e
privadas) têm laboratório, e 40, 73% das escolas são dotadas de internet banda larga.
Assim sendo, muitas propostas são apresentadas para que alunos e professores utilizem as Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação – TDIC.
Monteiro et al. (2013) destacam os chamados weblabs, ou seja, os laboratórios controlados remotamente, como
um recurso importante para a implementação das atividades experimentais reais e não ideais em sala de aula.
Um experimento remoto é definido como uma atividade realizada por uma ou mais pessoas que estejam juntas
num mesmo local ainda que separadas, num local diferente de onde está a montagem experimental no qual os dados
serão coletados. Para que isso seja possível são utilizados além de câmeras locais que captam e transmitem as imagens
dos experimentos, circuitos eletroeletrônicos que permitem que os usuários controlem as montagens para coletar
dados experimentais reais (Ferreira e Mueller, 2004; Bencomo, 2004).
Portanto, as atividades experimentais remotas não é uma simulação computacional: há um aparato real montado
num local diferente daquele onde se encontram os usuários com todos os recursos de interfaceamento e de
comunicação que permitem a eles, se comunicarem entre si, acessarem e manipularem esse aparato de forma a obter
dados e estabelecerem uma relação de causa e efeito (Monteiro, 2017).
Monteiro et al. (2013) explica o funcionamento de um experimento controlado remotamente, por meio da
figura 1, o autor chama a atenção para o fato de o usuário poder acessar o laboratório remoto, por meio da conexão
à internet, selecionando o experimento que deseja realizar. Uma vez esse acesso sendo estabelecido o usuário
visualiza o equipamento experimento a ser utilizado por meio de câmeras que gera imagens em tempo real. Há
também circuitos eletroeletrônicos que permite ao usuário manipular o experimento, variando determinados
parâmetros para observar determinadas alterações que podem ser medidas por instrumentos calibrados disponíveis.
Assim é possível não apenas observar o fenômeno e obter os dados necessários à sua pesquisa. A plataforma do
laboratório controlado remotamente também pode oferecer um LMS (Learning Management System), ou seja, um
Sistema de Gerenciamento de Aprendizagem (SGA). Esse sistema deve disponibilizar aos usuários os seguintes
suportes: correio eletrônico, listas de discussão, salas de bate-papo (chats), sistemas de coautoria, serviços de
teleconferência.
REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021)
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