Atividades experimentais segundo futuros professores de física
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 431
A fragmentação de saberes é criticada por Pimenta (2002), que argumenta que os mesmos, por vezes, são traba-
lhados de maneira desarticulada e, sendo assim, “um sobrepõe-se aos demais em decorrência do poder que adquirem
na academia” (Pimenta, 2002, p. 24). Nesse sentido, uma das formas de superar essa problemática, é considerar a
prática dos futuros professores como ponto de partida e de chegada, repensando os saberes necessários à docência
a partir da prática social da educação (Parma, 2020).
A partir das resoluções CNE 1/2002 e 2/2002, os estágios passam a ser regulamentados como componentes curri-
culares e a assumir um eixo central nos cursos de licenciaturas, apropriando-se de um papel indispensável para for-
mação didático-pedagógica dos futuros professores (Brasil, 2002a; Brasil, 2002b).
Segundo Pimenta e Lima (2010, p. 33), os estágios sempre foram caracterizados “como a parte prática dos cursos
de formação de profissionais, em contraposição à teoria”. Ainda é comum que os cursos de formação utilizem nos
estágios supervisionados estratégias de ensino que fazem uso da prática como instrumentalização técnica e como
imitação de modelos. Ambas concepções contribuem para um empobrecimento da prática profissional na educação
básica, visto que favorecem ainda mais o distanciamento da teoria e da prática na formação docente. Para as autoras,
uma das principais funções dos estágios é desempenhar a integração entre e as escolas de educação básica e a for-
mação inicial de professores, dando oportunidade para que os licenciandos-estagiários entendam as práticas pedagó-
gicas e se prepararem profissionalmente (Pimenta e Lima, 2010).
Nesse sentido, consoante com Pimenta e Lima (2010), considerando o papel docente como uma prática social que
permite a transformação por meio da educação em diferentes contextos e realidades sociais e, também, assumindo
a atividade docente como prática e ação pedagógica da institucionalização e das atividades que os professores desen-
volvem no coletivo escolar, compreendemos que o papel do estágio docente é possibilitar aos futuros professores o
entendimento e a discussão acerca das dificuldades relacionadas às práticas institucionais e às ações pedagógicas para
sua atuação docente. Para isso, é necessário que, tanto as disciplinas de conhecimentos específicos quanto às disci-
plinas de conhecimentos pedagógicos nos cursos de licenciaturas, tenham como objetivo a formação de professores
com capacidade analítica, crítica e de pesquisa, com intuito de promover novas formas de se fazer educação.
A partir deste entendimento e por meio desta pesquisa, busca-se compreender e analisar os impactos das discipli-
nas do curso de formação na prática docente de futuros professores de Física acerca das atividades experimentais
desenvolvidas durante a regência do Estágio Supervisionado.
III. EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA
Durante o processo evolutivo da Física, as práticas e os procedimentos experimentais sempre se fizeram presentes,
caracterizando-a como uma ciência experimental que busca investigar a natureza. Segundo Brodin (1978), citado por
Rosa (2003), o laboratório tem como função realizar uma ponte entre a realidade física (mundo concreto) e os pensa-
mentos e ideias (mundo abstrato). Alves Filho (2000) destaca também a importância das atividades experimentais nos
laboratórios didáticos para o Ensino da Física. Segundo o autor, para fazer Física são necessários os laboratórios, e,
nesse sentido, para aprender Física os mesmos também se mostram indispensáveis. A partir de tais argumentos, di-
versos autores defendem e consolidam a importância da experimentação no ensino de Física, tanto para o ensino na
educação básica quanto na formação de professores, considerando-a como um recurso facilitador para aprender e
ensinar ciências (Araújo e Abib, 2003).
Diversas são as maneiras de inserir as atividades experimentais no ensino de ciências e essas escolhas dependem
dos materiais disponíveis, dos objetivos específicos das atividades, dos problemas de estudos e das competências que
se pretende desenvolver nos estudantes.
Em relação aos objetivos específicos que se busca atingir por meio das atividades práticas, Hodson (1988) e We-
sendonk (2015) classificam em três dimensões características do conhecimento científico, os aspectos que as ativida-
des experimentais possuem: a) Dimensão Conceitual: que procura auxiliar os alunos a aprender (elementos de)
ciências (área científica específica); b) Dimensão Epistemológica: que busca auxiliar os alunos a aprender (elementos)
sobre como a ciência (área científica específica) é construída e se desenvolve; c) Dimensão Metodológica: que objetiva
auxiliar os alunos a aprender (elementos) sobre como fazer ciência (área científica específica) (Wesendonk, 2015).
Além disso, Wesendonk (2015) também caracteriza as atividades experimentais em três modalidades: os experi-
mentos com aparatos físicos, os experimentos de pensamento e as simulações computacionais. No atual estudo, o
foco das atividades desenvolvidas se concentrou apenas sobre os experimentos com aparatos físicos e, por tal motivo,
preferimos descrever e discutir somente esse tipo de atividade.
Dentro dessa modalidade, a autora descreve quatro tipos de atividades de podem ser desenvolvidas: a) demons-
trações experimentais; b) prevê-realiza-explica; c) verificação experimental; d) resolução experimental de um pro-
blema da realidade do aluno (Wesendonk, 2015).