Atividades experimentais para um curso remoto de física
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 452
o programa se iniciou no ano de 2007 sob orientação de professores da instituição. Desde então, o trabalho vem sendo
desenvolvido em parceria com diversas escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro, entre elas o Colégio Pedro II,
campus Humaitá II, escola federal localizada na zona sul da cidade que oferece, primordialmente, ensino básico regular.
A proposta das equipes do PIBID/UFRJ-Física tem sido sempre a da inserção dos trabalhos desenvolvidos em ativi-
dades regulares de sala de aula nas turmas cujo professor regente está vinculado ao programa no papel de professor
supervisor (Soares et al., 2020). Os licenciandos participam das aulas regulares na escola, na condição de ouvintes, ao
longo do ano letivo e desenvolvem, em parceria com o professor supervisor na escola e com os professores orienta-
dores na universidade, propostas de atividades didáticas coerentes com o conteúdo programático previsto que são,
em seguida, aplicadas nas turmas em horário regular. Em outras palavras, a proposta é a de priorizar o contato do
licenciando com a realidade cotidiana objetiva da sala de aula, condicionada por diversos fatores, tais como as limita-
ções de tempo impostas pelo cronograma previsto pela escola e a heterogeneidade dos estudantes com a presença
da totalidade da turma nos momentos de aplicação das atividades.
O ano de 2021 se apresentou como um desafio inédito à equipe do PIBID diante da grave situação sanitária que
afeta todos os países do mundo, particularmente o Brasil. Ao final do ano calendário de 2020, a reitoria do Colégio
Pedro II definiu que o ano letivo de 2020 seria integralizado durante o primeiro semestre de 2021 de forma inteira-
mente remota. Dadas as limitações no acesso a recursos digitais e de conexão de boa qualidade à internet de porção
significativa do corpo discente, foi decidido que as atividades seriam primordialmente assíncronas, com publicações
semanais por turma e disciplina através de um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) pré-definido. Foi acordado
também que o oferecimento de aulas síncronas através de conferência de vídeo teria frequência máxima de apenas
uma a cada quinze dias por disciplina. Nossas propostas de atividades precisariam ser, portanto, assíncronas e de rea-
lização individual e autônoma pelo estudante.
Tradicionalmente, os projetos desenvolvidos pela equipe do PIBID (PIBID/UFRJ-Física, 2021) tem como metodolo-
gia principal o Ensino por Investigação. Nesta perspectiva, as atividades partem da proposição de um problema e os
estudantes são convidados a participar de um processo de busca de soluções que guarda similaridades com caracte-
rísticas de uma investigação científica. É claro que um processo de experimentação e resolução de problemas no nível
escolar não é suficiente para a descoberta autônoma de uma lei científica e não se advoga tal intenção. No entanto,
esta metodologia pode despertar o interesse e o envolvimento emocional do aluno, estimulando sua participação,
estabelece pontos de partida que fazem emergir processos de discussão que podem levar à construção efetiva do
conhecimento e contribui para o desenvolvimento de habilidades e capacidades, tais como raciocínio, flexibilidade,
astúcia, argumentação e ação (Azevedo, 2004).
As condições específicas impostas ao trabalho no presente momento estabelecem uma barreira importante a ser
enfrentada por uma proposta de Ensino por Investigação: a quase impossibilidade no estabelecimento de uma intera-
ção mais intensa entre os alunos para que sejam criados momentos de livre discussão efetivos. A criação de uma
cultura e de um ambiente propícios para a organização de discussões é fundamental para o desenvolvimento de habi-
lidades ligadas à argumentação (Jimenez-Aleixandre, 2010), que vem a constituir parte dos objetivos gerais de uma
proposta baseada em investigação. No nosso caso, mesmo os encontros síncronos à distância são condicionados por
dois fatores importantes que aprofundam as dificuldades neste quesito. O primeiro é a baixa frequência dos encontros
virtuais (quinzenal), que impede a criação de uma discussão, e posterior processo de formalização de conteúdos, de
longa duração que possa se estender por mais de um encontro com encadeamento lógico minimamente fluido. O
segundo é o fato de que a maioria dos estudantes mantem suas câmeras desligadas durante os encontros, o que reduz
de forma muito significativa a intensidade das interações entre eles. Vale apontar que o professor regente das turmas
alvo das atividades em foco neste trabalho julga eticamente questionável a prática de exigir a abertura das câmeras
durante os encontros considerando a heterogeneidade social dos estudantes no contexto de uma escola pública e,
portanto, não o faz.
As discussões entre os membros da equipe do PIBID, realizadas na forma de conferências de vídeo à distância em
dois encontros semanais, se iniciaram em novembro de 2020 já de posse da informação a respeito da estrutura ado-
tada pela escola para o ano letivo que se iniciaria em fevereiro de 2021. A partir dessas discussões, foi tomada a decisão
de não abandonar inteiramente nossa perspectiva de trabalho tradicional, o Ensino por Investigação, em face das difi-
culdades conjunturais, e promover uma tentativa de adaptação possível a este momento histórico. Acreditamos que
as perdas advindas de uma decisão de abandoná-la seriam potencialmente mais relevantes que os riscos inerentes a
um processo de adaptação desconhecido a um novo paradigma. Dessa forma, cria-se uma oportunidade de aprendi-
zagem diferenciada para todos: professores (coordenadores e supervisores), licenciandos e também estudantes do
Ensino Médio.
Está claro que os aspectos da discussão e da argumentação, parte da perspectiva teórica norteadora, são os mais
fortemente prejudicados pela conjuntura. No entanto, o ensino mediado pela resolução de problemas pode manter
características relevantes mesmo nestas condições, das quais ressaltamos o estabelecimento de um ponto de partida
com o potencial de criar interesse, envolvimento emocional com o conteúdo e participação efetiva. Reconhecemos