Método de estudo de caso
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 33, no. 2 (2021) 64
I. INTRODUÇÃO
Há tempos o ensino de física nas escolas públicas brasileiras tem sido alvo de diversas pesquisas, sejam elas vinculadas
a proposição de inovações curriculares e de inserção de novos conteúdos, como física moderna e contemporânea no
ensino (Pietrocola, 2017), sejam na busca por discutir sobre o ensino e sobre a aprendizagem em física (Carvalho e
Sasseron, 2018), entre outras abordagens. Ocorre que, para além da inserção de conteúdos e da proposição de novos
métodos de ensino no currículo, a participação ativa dos alunos em ações colaborativas se coloca como central nos
processos educacionais, em especial no desenvolvimento de competências e habilidades para a aprendizagem em
física. Importa ainda a aproximação entre o que se estuda em sala de aula em relação com o contexto vivencial dos
alunos, congregando aspectos de contextualização do ensino e de interdisciplinaridade. Propiciar momentos de inte-
ração e dialogicidade entre os alunos, a partir da resolução de determinado problema cotidiano, apresenta-se, então,
como um caminho promissor para o engajamento dos estudantes para o ensino da física. Tais aspectos dialogam com
os constructos teóricos da Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL, do inglês Problem Based Learning).
O PBL configura-se em uma abordagem educacional em que o problema, geralmente contextualizado com o coti-
diano, é o ponto de partida do processo de aprendizagem (Graaff e Kolmos, 2003) e que, busca promover o desenvol-
vimento da autonomia e do protagonismo dos alunos. Esta abordagem também se sustenta na ideia de um ensino
colaborativo, engajamento ativo, aprendizagem interdisciplinar e melhoria da qualidade da educação, por meio da
ênfase na resolução de problemas (Tan, 2003). Como apontam Sá e Queiroz (2010), uma das variantes do PBL é o
chamado método de estudo de caso, em que a proposição do problema se figura como o caso em questão, a ser
resolvido colaborativamente pelos alunos, sob a mediação de um professor. Como apontam Queiroz e Cabral (2016),
... o método [de estudo de caso] é centrado no aluno como sujeito ativo no processo de ensino e aprendizagem. A aproxi-
mação dos alunos com problemas reais é um dos pilares do PBL, de modo que venham a adquirir conhecimento científico e
tecnológico sobre a temática em questão e a desenvolver o pensamento crítico e a habilidade de resolver problemas [...]
também caracteriza o PBL a realização de atividades em grupos pequenos de alunos e a atuação dos professores como
guias ou facilitadores do processo ... (Queiroz e Cabral, 2016, p. 12)
Assim, o referido método envolve o uso de casos investigativos que possibilitam aos alunos investigarem proble-
mas, levantarem hipóteses, proporem soluções, desenvolverem habilidades de trabalho em grupo e de comunicação
(Sá e Queiroz, 2007) e, relacionarem conceitos científicos entre si. Um caso investigativo envolve, em geral, questões
sociocientíficas, as quais possibilitam aos alunos perceberem, discutirem e compreenderem os diferentes fatores re-
lacionados às questões científicas na sociedade, em particular em seu cotidiano (Gomes e Amaral, 2017). Destaca-se
ainda, que grande parte dos relatos da implementação dos casos apresentados na literatura o descrevem como sendo
utilizado em grupos, fato que também colabora com a habilidade do aluno de trabalhar em equipe. Além disso, o
emprego do referido método tem potencial para que os alunos aprimorem suas habilidades de comunicação e de
argumentação.
Para a elaboração de um bom caso investigativo é preciso contemplar alguns elementos fundamentais, preconiza-
dos na literatura, como: breve e estar adequado à capacidade de leitura da faixa etária em que se trabalha; contar uma
história, a qual deve incluir personagens e diálogos; instigar os alunos à curiosidade e motivá-los a resolvê-lo; ser
aberto, ou seja, não apresentar um fim em si mesmo (Herreid, 1998; Herreid, 2007; Queiroz e Cabral, 2016; Cabral,
Souza e Queiroz, 2017). É justamente esta última característica que sustenta o trabalho reflexivo, argumentativo e de
investigação dos alunos sobre o caso, ou seja, a busca por solucionar o problema em questão.
Importa ainda que, o caso deve ser atual, de interesse do aluno e, ter relevância pedagógica, o que significa consi-
derar sua função dentro dos processos e práticas pedagógicas, além do conteúdo abordado com os alunos. O caso
deve provocar conflitos e levar o aluno a tomar decisões. Além disso, ele deve permitir generalizações, ou seja, que
possa ser aplicado em outras situações (Cabral, Souza e Queiroz, 2017; Queiroz e Cabral, 2016; Silva, Oliveira e Queiroz,
2011). No contexto brasileiro o estudo de caso vem sendo utilizado em diferentes níveis de escolaridade. No entanto,
percebemos um forte movimento vinculado ao seu uso com alunos do nível superior e na área da química. Um exemplo
desta percepção apoia-se no fato de que há quase duas décadas o Grupo de Pesquisa em Ensino de Química da Uni-
versidade de São Paulo vem se dedicando a produzir, pesquisar e divulgar casos nessa área do conhecimento (Faria e
Freitas-Reis, 2016; Queiroz e Cabral, 2016), em especial em cursos universitários. Por outro lado, reforçamos que há
um tímido movimento do uso desta abordagem em âmbito da educação básica brasileira, em particular na compo-
nente curricular física do Ensino Médio (EM) (Wolff, 2019).
Diante o exposto, tem-se um caminho longo a ser percorrido no que concerne ao uso de casos investigativos no
ensino de física no âmbito da Educação Básica. É justamente contribuindo para a superação deste gap que se encontra
o referido trabalho, direcionado a investigação das percepções de estudantes do 3° ano do EM sobre o trabalho com
o método de estudo de caso a partir da resolução de um caso investigativo com o tema eletricidade - em especial