Jornadas formativas mediadas por tecnologias digitais no ensino superior
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 34, n.o 1 (2022) 131
Tal ação teve por intuito ressignificar a oferta de uma experiência de aprendizagem híbrida (Mill e Chaquime, 2017)
e significativa (Ferreira et al., 2020; Ferreira et al., 2021; Mill, 2021; Moreira, 2011a; 2011b), a partir de um referencial
teórico bem estabelecido (Silva Filho e Ferreira, 2018; Silva Filho et al., 2021), que atrela aos fundamentos da Teoria
da Aprendizagem Significativa (TAS) elementos normativos como os encontrados na Teoria da Educação de Matthew
Lipman (LIP). Além disso, buscou-se incorporar noções de jornadas formativas (Mill, Oliveira e Ferreira, 2022; Oliveira,
Mill e Ferreira, no prelo) em ciclos e arcos de aprendizagem (Kavanagh, s.f.) e contemplando a perspectiva da
flexibilidade pedagógica (Mill, 2018). Desse modo, objetivou-se discutir a proposta no contexto na qual foi
implementada de modo a contribuir com a construção de um caminho para outras experiências e reflexões acerca de
estratégias de ensino e aprendizagem em um contexto de cultura digital e pós-pandêmico.
Para isso, parte-se de uma breve contextualização da jornada formativa desenvolvida, perpassando aspectos
teórico-práticos que fundamentaram a proposta, suas características e organização, além dos resultados e da análise
de sua implementação. Optou-se por fazê-lo como um relato de experiência de professores e tutores integrantes da
equipe docente, bem como por profissionais multidisciplinares que contribuíram com o desenvolvimento e a avaliação
do modelo, a exemplo do que já foi feito por Mill, Oliveira e Ferreira (2022). Esse relato baseia-se em análise
bibliográfica e de normativas, no cotejamento de documentos organizadores e do ambiente virtual de aprendizagem
(AVA) da disciplina (plano de ensino, cronograma de atividades, referências bibliográficas, descritivos de atividades,
postagens dos professores, tutores e estudantes etc.), na (re)análise das gravações dos encontros síncronos, no
escrutínio dos resultados de aplicação e reaplicação do questionário de sondagem de perfil, experiências e
aprendizagens e nos resultados de desempenho dos estudantes.
II. CONTEXTO E CARACTERÍSTICAS DAS JORNADAS FORMATIVAS NA DISCIPLINA DE MEF/EaD/UnB
No intuito de compreender a realidade da experiência aqui analisada, parte-se de uma breve contextualização da
jornada formativa em questão e da caracterização de sua proposta. Esta reflexão partiu da experiência de ensino-
aprendizagem na disciplina Metodologia do Ensino de Física (MEF), componente curricular obrigatório para os cursos
de Física – Licenciatura ofertados (de forma presencial e a distância) na Universidade de Brasília (UnB). Este estudo,
em específico, se deu no contexto do curso do curso EaD, oferecido pelo Instituto de Física (IF) e apoiado pelo Sistema
Universidade Aberta (UAB) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O Sistema UAB traz em sua proposta a intenção de ampliar e interiorizar a oferta de cursos superiores pela
modalidade de Educação a Distância (EaD), oferecendo formação inicial e continuada em nível de graduação e pós-
graduação. Ele busca, ainda, o desenvolvimento de um sistema nacional de educação superior a distância, com
parâmetros adequados de institucionalização, almejando reduzir desigualdades e democratizar o acesso à educação
superior. Desse modo, se propõe a contribuir, por um lado, para a formação qualificada de profissionais e, por outro,
para disseminação includente de conhecimentos, em ambos os casos em vistas ao desenvolvimento do País (Ferreira
e Carneiro, 2015).
Assim, entende-se a necessidade de uma proposta que é relevante ser composta por elementos claros e
necessários à EaD que, conforme discutidos por Mill (2010), contemplam aspectos como gestão, ensino, aprendizagem
e mediação técnico-pedagógica. No entanto, além do intuito de redução de desigualdades, democratização e
interiorização da oferta de educação superior, alguns desses elementos podem ser entendidos como controversos na
execução da UAB como programa derivado de uma política pública de formação de professores e demais profissionais
por meio da EaD.
Como ponto de partida, traz-se desafios já existentes, mas que foram mais fortemente evidenciados em um
contexto pandêmico. Corroborando com Ferreira, Costa e Mill (2021), é preciso refletir e desmistificar a idealização da
EaD como uma modalidade de ensino universal, em que estudantes e professores podem acessar em qualquer espaço
e tempo. Devido a um contexto ainda desigual ao redor do País, a Pandemia de Covid-19 demonstrou a existência de
distintas realidades marcadas, por exemplo, pela dificuldade de acesso à internet e a dispositivos tecnológicos.
A conjuntura pandêmica, em um primeiro momento, também fez com que polos de apoio presencial aos cursos
EaD/UnB estivessem indisponíveis para o suporte ao estudante e realização de atividades como aulas, seminários,
práticas laboratoriais, avaliações e defesas de trabalhos de conclusão de concurso (UNB, 2020a, 2020b, 2020c, 2021a,
2021b). Mesmo após a retomada das atividades pela UnB, de modo remoto, é importante frisar que se manteve a
restrição aos encontros presenciais, típicos nos cursos em questão pelo modelo usualmente adotado, conforme a
natureza da indução e do fomento (Ferreira, Costa e Mill, 2021). Desse modo, ainda que a disciplina aqui analisada
seja parte de um curso de licenciatura estruturado e pensado na modalidade EaD, seus desdobramentos são
rigorosamente expansíveis a análogos presenciais em meio a um contexto pandêmico ou em contingências de
presencialidade de qualquer outra natureza.