Problematizando a física com brinquedos
www.revistas.unc.edu.ar/index.php/revistaEF
REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 34, n.o 1 (2022) 102
Os documentos (BNCC) também ressaltam que o elemento central da formação das crianças deve ser conduzido
por metodologias e abordagens que possibilitem a ação da mesma e que, prioritariamente, haja momentos de obser-
vação e reflexão. Neste contexto emerge a abordagem do Ensino por Investigação (EI), que pode propiciar que os
alunos observem fenômenos, objetos, desenvolvam atividades em campo, façam levantamentos de hipóteses e apri-
morem seus conhecimentos, relacionando-os com o conhecimento científico (Brasil, 2017). Convergindo com essa
proposição Azevedo (2004), Carvalho (2013) e Sasseron e Machado (2017) destacam que atividades lúdicas são de-
senvolvidas no ensino fundamental, no entanto, por vezes, essas tendem para o comportamento passivo dos alunos,
o que os desmotiva e “mata” sua curiosidade. Consideramos que o ensino de ciências deve ser desenvolvido por meio
de atividades investigativas, que se caracterizam pela proposição de situações problemas, as quais propiciam o levan-
tamento e teste de hipóteses, passem da ação manipulativa para a intelectual e argumentem com os seus colegas e
professor.
Sob essa ótica, implementar atividades investigativas com brinquedos apresenta-se como uma alternativa para
despertar o interesse e a curiosidade das crianças, uma vez que, segundo Kishimoto (2011, p. 20) “[...] o brinquedo
pressupõe uma relação íntima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema
de regras que organizam sua utilização”.
Ao pensarmos em oficinas investigativas com brinquedos podemos dizer que essa possibilita que as crianças tra-
balhem com o imaginário, não havendo regras para a construção do brinquedo, o que leva ao estabelecimento de
relações entre os objetos do nosso cotidiano com o “mundo do faz de conta”. Ainda existe uma flexibilidade quanto
ao seu desenvolvimento, pois cada um dos brinquedos a serem montados geram combinações distintas e imaginati-
vas, estimulando a criatividade.
Neste contexto, o presente artigo explana o desenvolvimento de uma oficina investigativa de física, adotando
como recurso “brinquedos”, implementada com alunos do quarto e quinto ano do ensino fundamental de uma escola
pública da cidade de Toledo, Paraná, que participaram de atividades do projeto COMQUÍMICA das crianças, oferecido
no Núcleo de Ensino em Ciências (NECTO) de Toledo/PR, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
A. Oficinas pedagógicas
A constituição do conhecimento em Ciências deve ser entendida como um processo de construção de conhecimento.
Vieira e Volquind (2002) propõem que os alunos sejam responsáveis pela organização do conhecimento, enquanto o
professor faz a “ponte” entre o conhecimento e o estudante. Também ressalta que a construção deste não ocorre de
maneira isolada, pois para que estabeleçam uma relação entre o conteúdo e o cotidiano é preciso que vivenciem
situações de interação com a realidade na qual estão inseridos. Além disso, devem compreender quais as suas aplica-
ções, de forma que predominem, nas salas de aula, problemas contextualizados, desde os primeiros anos do ensino
básico.
No livro "Alfabetização Científica na prática: inovando a forma de ensinar física” de Sasseron e Machado (2017)
encontramos similaridade com o trabalho de Vieira e Volquind (2002) no que se refere as oficinas. Os autores desta-
cam que o conhecimento deve ser construído no coletivo, que as interações discursivas de conceitos científicos, bem
como promovem habilidades para o desenvolvimento da argumentação. Os autores apontam que quando o professor
dá liberdade para que os alunos desenvolvam as atividades e possibilita que estes coloquem suas ideias em prática,
levantando hipóteses, isso não significa que eles estejam sozinhos, mas que será a partir de suas ideias iniciais que o
trabalho e a discussão serão conduzidos.
Nesse cenário, as oficinas pedagógicas são um caminho para promover a aprendizagem a partir de situações cole-
tivas e problemas contextualizados, além de serem uma modalidade que difere das aulas tradicionais, incorporando
a ação, reflexão, investigação e intercâmbio de ideias, bem como é formada a partir do tripé sentir-pensar-agir. Res-
saltamos que, nas oficinas pedagógicas priorizam-se a ação do aluno, no entanto não se deixa a teoria de lado (con-
ceitos), pois se entende que atividades com proposições de situações-problema precisam aprofundar-se teoricamente
(Vieira e Volquind, 2002). Salientamos que em oficinas pedagógicas, o foco é a aprendizagem dos estudantes e o
conhecimento é construído a partir do que eles sabem sobre um determinado assunto (Paviani e Fontana, 2009).
No que se refere ao desenvolvimento das oficinas, Vieira e Volquind (2002) dissertam que os materiais escolhidos
não são os únicos responsáveis por fazer com que o ensino seja eficiente, mas devem ser selecionados objetivando a
reflexão dos alunos, bem como o estabelecimento de uma relação entre o conhecimento e forma. Além disso, Vieira
e Volquind (2002) propõem que ao realizar oficinas, três coisas se assimilem: “[...] o processo pedagógico, o qual supõe
intervenções didáticas; a reflexão teoria-prática permitindo pôr teoria em ação; a relação de interdisciplinaridade vi-
sando a unidade do saber” (Vieira e Volquind, 2002, p. 13). Sendo assim, além da escolha dos materiais para o desen-
volvimento das oficinas, o professor (considerado um mediador) precisa estar preparado para criar espaços propícios