Investigação científica em sala de aula
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 34, n.o 1 (2022) 34
entendimento da situação, em vez de buscar uma solução exemplar, automatizada.
Apesar de oferecer as vantagens destacadas, em um contexto de desenvolvimento de habilidades diversas dentro
de uma proposta de tarefa de resolução de problemas, a forma como essas atividades são desenvolvidas deve ser
cuidadosa, para que não ocorra um desvio dos objetivos da aplicação. O professor não deve tratar a resolução de
problemas como uma atividade comum, de resolução linear, que não gere dúvidas ou não exija tentativas por parte dos
alunos; essas atividades precisam mobilizar conhecimentos já construídos e desenvolver outros novos (Peduzzi, 1997),
aproximando a aprendizagem aqui definida daquilo que a comunidade científica define como aprendizagem
significativa.
Assim sendo, é essencial que as atividades que envolvam resolução de problemas sejam planejadas com foco nas
habilidades que os alunos precisam desenvolver no processo de solução, funcionando como um instrumento de
aprendizagem e de retomada dos conhecimentos adquiridos durante o processo educacional, assim como oferecer
um dinamismo em que aspectos da investigação científica estejam presentes.
III. AS METODOLOGIAS ATIVAS PARA SUPERAR O INSUCESSO NO ENSINO DE FÍSICA
A discussão sobre os processos de ensino-aprendizagem vem sendo realizada há vários anos, passando por diferentes
contextos sociais, culturais e tecnológicos, de forma que se tornam indispensáveis alternativas metodológicas que
estejam em consonância às necessidades da sociedade (Pasqualetto, Veit e Araujo, 2017).
O modelo tradicional de ensino se fundamenta em uma visão enciclopedista, em que o conhecimento se divide em
disciplinas e é transmitido pelo docente, além disso, esse modelo se baseia na memorização e reprodução dos
conteúdos (Lacerda e Santos, 2018). Todas essas características, no entanto, podem se resumir à passividade do corpo
discente em relação ao processo de aprendizagem. Os estudantes permanecem, na maior parte das vezes, alheios às
discussões em sala de aula e, portanto, não são participantes da própria aprendizagem. Esse modelo é utilizado há
vários anos, tanto na Educação Básica, quanto no Ensino Superior (para Freire, educação bancária), porém, não
acompanhou as diversas mudanças pelas quais a sociedade passou, principalmente nos últimos quase trinta anos da
popularização da internet. De acordo com Morán (2015, p. 16),
Os métodos tradicionais, que privilegiam a transmissão de informações pelos professores, faziam sentido quando o acesso
à informação era difícil. Com a Internet e a divulgação aberta de muitos cursos e materiais, podemos aprender em qualquer
lugar, a qualquer hora e com muitas pessoas diferentes.
Nesse contexto, surge a necessidade de discutir, desenvolver e pôr em prática novas metodologias de ensino que
estejam não somente de acordo com as transformações da sociedade, mas também com as características do cidadão
e do profissional que se quer educar para o mundo. As metodologias precisam guiar-se pelo que se espera que seja
desenvolvido através delas; se queremos alunos proativos, necessitamos propor metodologias em que os alunos
precisam refletir sobre situações complexas, tomar decisões e avaliar resultados (Morán, 2015). Dessa forma, se no
processo pedagógico os alunos se envolvem de maneira a perguntar, discutir, fazer e ensinar, então será sujeito
principal da própria aprendizagem, construindo seu conhecimento de forma ativa e não apenas recebendo
passivamente do professor (Gewehr, Strohschoen, Marchi, Martins e Schuck, 2016).
As metodologias ativas de ensino proporcionam ferramentas e conceitos que auxiliam nas mudanças didático-
pedagógicas necessárias para uma profunda modificação dos preceitos relacionados à sala de aula e à atuação de
alunos e professores. Essas metodologias apontam que a forma mais eficaz de aprender é combinando atividades,
desafios e informações contextualizadas; com elas, o aprendizado acontece por meio de problemas e situações
reais ou simuladas, muitas das quais os alunos irão experimentar em suas vidas profissionais, no futuro (Morán, 2015).
De forma geral, essas metodologias “(...) baseiam-se em formas de desenvolver o processo de aprender (...)”,
conforme Berbel (2011, p. 29).
O ensino de Física no Ensino Superior traz diversos debates sobre a relação método tradicional versus métodos
ativos de ensino, visto que a universidade é um ponto de partida fundamental na formação dos profissionais. Dessa
forma, os alunos precisam de uma educação continuada e que dê conta não somente dos conteúdos exigidos, mas
também da formação sócio-interacionista (Wall, Prado e Carraro, 2008). De acordo com os autores, essas propostas
pedagógicas devem ter enfoque no sujeito, em que o professor é um facilitador da aprendizagem, desenvolvendo
fundamentalmente uma ação de mediação entre os entes envolvidos no processo de ensino (conteúdo/estudantes).
Essas são características construtivistas como as citadas por Lacerda e Santos (2018) em seu trabalho sobre a
integralidade na formação do Ensino Superior; os autores afirmam que uma grande parte do insucesso nesse nível de
ensino (evasão, repetência e deformação profissional) decorre da insuficiência da Educação Básica, por isso também
é tão importante buscar esse desenvolvimento dentro das universidades, sanando alguns dos problemas causados