Dublagem com fins educacionais
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 34, n.o 1 (2022) 24
I. INTRODUÇÃO
O uso de redes sociais, que já era preponderante entre jovens adolescentes antes da pandemia de COVID-19, parece
ter se fortalecido ainda mais durante o período de quarentena e possivelmente no cenário pós-pandêmico (Loures
Integration, 2021). Se, por um lado, as redes sociais podem ser um elemento de distração e interferir na concentração
dos estudantes durante as aulas, por outro lado, produtos e projetos educacionais que integrem as redes sociais ao
processo de ensino-aprendizagem podem tomar proveito da capilaridade destas redes, tornando-as ambientes de
aprendizagem de alta penetração entre estudantes (Borges e Leite, 2021).
Se considerarmos a rede social de streaming de vídeos YouTube, que é o segundo site mais acessado no Brasil e
na Argentina (AAA Inovação, 2021; Similarweb, 2021), embora grande parte do acesso a esta rede esteja focado no
entretenimento, inúmeros canais independentes destinam-se à divulgação científica e ao ensino, atraindo em alguns
casos milhões de inscritos por todo o mundo (Canaltech, 2021).
Todavia, deve-se considerar que embora seja alto o nível de conectividade digital dos jovens na atualidade, quando
se segmenta a Internet pelas línguas faladas, ainda é predominante o uso da língua inglesa entre os usuários,
correspondendo a 25,9 % do total, sendo que para línguas latinas como português ou espanhol, esta porcentagem cai
para 3,7 % para o português e 7,9 % para o espanhol, de acordo com dados de 2020 (Internet World Stats, 2020). Esta
baixa representatividade numérica, por sua vez, tem reflexo na proporção de conteúdo disponível nestas duas últimas
línguas, expondo uma barreira para o pleno acesso à informação disponível na Internet: o idioma.
A partir desta percepção, este estudo objetiva apresentar uma proposta de projeto de dublagem educacional de
baixo custo com o objetivo de permitir que conteúdos audiovisuais produzidos em outras línguas na plataforma
YouTube possam ser disponibilizados em português para estudantes do ensino médio.
A metodologia apresentada neste estudo aborda a seleção dos vídeos educativos, o contato com os autores para
obtenção da permissão de uso dos vídeos, o processo de dublagem em português e a posterior validação do produto
educacional (vídeo) por professores e estudantes. A metodologia empregada também possibilita que o projeto seja
desenvolvido de forma multidisciplinar através da integração do trabalho de professores de ciências e línguas
estrangeiras.
Os resultados obtidos demonstram que é possível empregar a técnica de dublagem com fins educacionais,
permitindo explorar de maneira eficaz o imenso manancial de recursos didáticos disponível online e muitas vezes
ignorado por professores e estudantes devido a barreiras linguísticas.
II. O USO DE VÍDEOS E REDES SOCIAIS COMO FERRAMENTAS EDUCACIONAIS
O uso de vídeos como recurso educacional já é amplamente difundido entre professores, e seus efeitos sobre a
aprendizagem dos estudantes vem sendo estudado por inúmeros pesquisadores. Em pesquisa recente, por exemplo,
Shiu et al. (2020) constataram que o uso de vídeos educativos com animações pode ser tão efetivo para o aprendizado
quanto o uso de textos escritos, o que demonstra quão efetiva esta estratégia de ensino pode ser. Em outro estudo,
conduzido por Barak, Ashkar e Dori (2010) foram constatados efeitos positivos sobre a motivação de estudantes
quando se utilizou vídeos educativos para o ensino de ciências, sendo considerados aspectos como interesse,
satisfação, conexão com a vida diária e importância para o futuro dos estudantes. Pereira et al. (2012) relataram que
o desenvolvimento de relatórios audiovisuais por estudantes do ensino médio, para atividades de física experimental,
permitiu o desenvolvimento de aspectos motivacionais e até mesmo estéticos e culturais pelos estudantes,
características dificilmente consideradas em relatórios tradicionais. Efeitos positivos sobre o engajamento intelectual
dos estudantes também foi percebido, tendo sido atribuído ao fato de que os estudantes sabiam que seus relatórios
seriam assistidos por outros alunos.
Além do uso de recursos audiovisuais tradicionais, uma tendência mais recente tem aflorado no meio educacional:
o uso das redes sociais digitais em projetos de ensino, particularmente no que concerne à divulgação científica.
Pode-se citar, por exemplo, o uso da rede social Instagram que já foi usada para o ensino de astronomia,
promovendo o debate de temas científicos entre alunos e professores (Gomes e Galluzzi, 2021). Outro caso é o da
rede social YouTube, seu uso para fins educacionais já foi reportado em diversas áreas tais como anatomia, biologia
marinha e vulcanologia, áreas que comumente fazem uso de observação e visitas de campo, mas que muitas vezes
podem optar por vídeos educacionais como uma alternativa em situações de recursos limitados (Pecay, 2017). Ainda
utilizando o YouTube, Liberato et al. (2013) desenvolveram um projeto em que estudantes foram solicitados a criar
exercícios de revisão baseados em vídeos desta plataforma abordando a temática de fenômenos de transporte. Os
resultados demonstraram que os estudantes participantes do projeto apresentaram desempenho melhor em exames
quando comparados a estudantes que usaram a abordagem tradicional de estudo por problemas de livros-textos.