WebQuests como recurso instrucional e avaliativo
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 35, n.o 1 (2023) 64
I. INTRODUÇÃO
No contexto do ensino de física em escolas brasileiras e, em particular, naquele de formação continuada levada a cabo
por iniciativas como o Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF), tem-se evidenciado forte
penetração das ideias de David Ausubel e de sua Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS). As justificativas para isso
perpassam o traço típico das políticas curriculares brasileiras, a arquitetura da formação inicial de professores na área
e as influências das correntes de pesquisa que deram origem e continuam influenciando a Pós-Graduação em ensino
de física e em educação científica de forma mais ampla.
Entretanto, são muitas as críticas que se fazem sobre a eventual correção no que concerne ao uso desse referencial
teórico (Silva Filho e Ferreira, 2018; Silva Filho et al., 2021; Ferreira et al., 2021a; Ferreira et al., 2021 e Moreira, 2022).
Para ficar apenas em uma delas, é possível encontrar o questionamento sobre se a etapa de levantamento de
subsunçores (Silva Filho e Ferreira, 2022), que o próprio Ausubel afirmava ser o cerne de sua abordagem, seria, de
fato, realizada e, principalmente, de maneira adequada. Outra questão de implementação metodológica do
referencial teórico da TAS refere-se ao cumprimento de todas as suas etapas constitutivas.
Para além desses elementos, é interessante considerar que a TAS, como veremos, se adequa de maneira
especialmente plástica à noção de personalização do ensino a um amplo conjunto de disciplinas escolares, em
particular no contexto de turmas com vinte ou mais estudantes, podendo representar avanço significativo nessa
questão, se for possível encontrar um mecanismo de automação dos elementos envolvidos. Assim, ganha-se tanto na
perspectiva eminentemente teórica, ao se fazer uma implementação adequada de um referencial significativo, ao
mesmo tempo que se aborda uma questão relevante para o ensino, que é aquela de sua personalização. Tais questões
ganham ainda mais relevo em um contexto do ensino de física, sabidamente uma disciplina que traz, de modo geral,
dificuldades aos estudantes, não raro por questões relacionadas aos seus conhecimentos prévios, à sua epistemologia
complexa e às suas teorias e metodologias empíricas (dedutivas, em geral), proposicionais, modeladas,
representacionais e abstratas.
O presente trabalho tem por objetivo apresentar um modelo de implementação de todas as etapas da TAS a partir
da adoção das WebQuests – tipologia de desenho instrucional e avaliativo que será detalhado à frente. Objetiva, ainda,
apresentar a maneira como tal implementação pode ser automatizada e, com isso, incorporar os elementos de
personalização do ensino desejados.
Na segunda seção, apresentamos os principais elementos, relevantes para este trabalho, da TAS. Na terceira seção,
apresentamos o modelo geral de uma WebQuest e seus principais conceitos estruturantes. A seção quatro é destinada
à correlação teórica entre o modelo geral de WebQuest e os princípios diretores da TAS. Na quinta seção, explicitamos
a maneira como a correlação entre TAS e WebQuest pode ser efetivada de maneira mais concreta, fazendo tal
correlação assentar sobre tipos de itens que podem ser adotados em tal desenho instrucional e avaliativo. A seção VI
apresenta os rudimentos da implementação computacional do sistema e, na seção VII, por fim, desenvolvemos nossas
considerações finais.
II. ELEMENTOS DA TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Esta seção tem por objetivo descrever, sucintamente, a Teoria da Aprendizagem Significativa, voltando-se para os
principais elementos relacionados aos interesses precípuos deste trabalho.
De maneira geral, o conceito mais fundamental na TAS, uma abordagem que se insere no âmbito de uma Teoria
de Aprendizagem de característica cognitivista, é aquele de estrutura cognitiva. Assim, os estudantes são modelados
como possuindo uma estrutura cognitiva capaz de assimilar novos conhecimentos. Essa assimilação, entretanto,
depende de algumas condições para que se possa considerá-la significativa. Assim, inicialmente, é crucial que a
estrutura cognitiva do estudante contenha elementos que possam ancorar os novos conhecimentos. Tais
conhecimentos prévios são chamados de subsunçores e a eles é atribuída a função de servir de âncoras cognitivas para
o novo conhecimento – note que esse elemento da TAS se refere de modo especialmente importante à questão do
ensino personalizado, uma vez que as estruturas cognitivas dos estudantes poderão, e, no mais das vezes, irão se
diferenciar significativamente. De modo geral, entretanto, os estudantes possuem ideias difusas sobre aquilo que se
deseja ensinar a eles, ou seja, os subsunçores estão ainda desorganizados. Assim, para que haja uma assimilação
significativa do conhecimento novo, faz-se necessário, na maioria mais das vezes, que os subsunçores dos estudantes
passem por uma etapa de organização avançada, com vistas a prepará-los para que possam ancorar os conhecimentos
novos com efetividade. Uma vez tendo levantado os subsunçores de cada estudante e havendo-se organizado tais
subsunçores, passa-se, portanto, ao ensino dos novos conceitos. Esse ensino, como preconiza a TAS, envolve tanto
uma etapa analítica, em que cada conceito envolvido é considerado em si mesmo, em suas especificidades, dando a
esta etapa o nome de diferenciação progressiva, quanto uma etapa sintética, em que os conceitos, já devidamente