Experimento para a compressão da meia-vida radioativa
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 35, n.
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I. INTRODUÇÃO
A Física Moderna e Contemporânea faz parte do currículo do Ensino Médio, porém, no cotidiano escolar, os conteúdos
trabalhados ao longo do período letivo têm se limitado ao ensino da Física Clássica, principalmente pela falta de tempo
(Moreira, 2018) devido à pouca carga horária (cerca de 2 horas-aulas por semana), e pela carência de experimentos.
Fato constatado por alguns autores desde o final do século passado, no qual, citam que os conteúdos de Física
Moderna, apesar de obrigatórios, não se tornam significativos para os estudantes (Terrazan, 1992; Alvetti, 1999),
possivelmente pela dificuldade de contextualização por parte dos docentes e falta de práticas que possam demonstrar
os conceitos ou a aplicação dos conceitos envolvidos.
Ao mesmo tempo, temos as tecnologias cada vez mais presentes no cotidiano dos estudantes, seja no ambiente
escolar ou em momentos de lazer. O acesso facilitado a ferramentas online e a presença, cada vez mais constante,
dos estudantes em redes sociais se mostram uma realidade, que já era uma tendência mesmo antes da pandemia e
com ela acelerou e potencializou essa relação (Reis, Rivas, 2020). A abordagem para diferentes temas da física usando
Arduino (Monteiro, Vilhena, Silva, Lucena, Coutinho Júnior, 2022), computadores (Medeiros, Medeiros, 2002; Fiolhais,
Trindade, 2003) e smartphones (Pszybylski, Motta, Kalinke, 2020; Bauman Bertti, Arashiro, Avelaneda, Silveira, 2022)
vem se tornando cada vez mais frequente nas escolas.
Assim, o uso de simuladores pode ser um recurso muito interessante para que os estudantes compreendam
aspectos da Física Moderna, e no caso deste trabalho sobre a radioatividade, estando isentos dos possíveis riscos
associados a manipulação de materiais radioativos (Mesquita, Dytz, 2019), que seguem legislação específica para sua
manipulação (CNEN, 2014). Alguns trabalhos apresentam esse tipo de abordagem para tratar desse tema, Mesquita e
Dytz (2019) propuseram o uso de um protótipo para simular um medidor de atividade que utiliza uma fonte luminosa
para simular parâmetros análogos à fonte radioativa, o comportamento do decaimento radioativo tem sido ensinado
com uso do simulador da Plataforma PhET (Machado, Cruz, 2020), simulação computacional (Jesse, 2003) ou através
de analogias com o lançamento de moedas (Bakaç, Taşoğlu, Uyumaz, 2011), lançamento de dados físicos (Celnikier,
1980; Kowalski, 1981) ou de lançamento de poliedros de faces variadas como se fossem diferentes radioisótopos
(Bauman Bertti, Silveira, Dytz, Arashiro, 2022a; Bauman Bertti, Silveira, Dytz, Arashiro, 2022b).
Quando um átomo emite algum tipo de radiação é dito que o elemento químico sofreu um decaimento ou
desintegração radioativa. O processo de decaimento radioativo além de ser uma transmutação da matéria, pois o
elemento decaído geralmente é diferente do elemento emissor da radiação, também é um processo espontâneo e
probabilístico. O tempo médio em que metade dos átomos de uma certa amostra decaem é conhecido como tempo
de meia-vida e tem um comportamento exponencial.
Entendendo a inserção da tecnologia na sala de aula e a necessidade de experimentações no tema que não
envolvesse o uso de materiais radioativos e permitisse uma comparação fidedigna com o processo estatístico do
decaimento radioativo, este trabalho trata de uma simulação do decaimento radiativo usando poliedros físicos e,
através de aplicativo de celular, de poliedros virtuais, ambos com um número específico de faces.
A escola que foi aplicada a prática contava com sistema de ensino presencial e remoto, durante o retorno gradual
das atividades pós-pandemia da COVID-19, essa dinâmica possibilitou testar mais de uma forma de aplicação da
atividade. Com isso foi sugerido que o grupo presencial utilizasse os poliedros de 6 faces e os estudantes que estavam
no sistema remoto utilizassem poliedros de 10 faces. Com isso surgiu a possibilidade de entendimento de elementos
com meias-vidas distintas. A probabilidade de um determinado tipo de elemento radioativo decair após um certo
período de tempo pode ser simulada estudando o processo probabilístico como no caso de lançamentos subsequentes
de poliedros com eliminação dos que possuem um pré-determinado valor de face a cada jogada simultânea.
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A atividade prática envolvendo o conhecimento de decaimento radioativo é proposta para uma situação de sala de
aula onde o professor instrui o estudante a explorar a questão do decaimento radioativo utilizando recursos em que
ele, com auxílio dos colegas, busca a solução para o entendimento da situação problema: como os átomos decaem?
A intervenção do professor é importante para conduzir não apenas as discussões, mas também o experimento
proposto para que o grupo possa interagir buscando o conhecimento acerca do tema. A solução deve ser vista como
um indicativo de seu desenvolvimento mental. Neste caso, para Vygotsky (2007), o que o estudante consegue fazer
com a ajuda dos outros, pode ser de alguma maneira, muito mais indicativo de seu desenvolvimento mental do que
o que consegue fazer sozinho.
Assim o papel do professor está focado na construção de novos conhecimentos do estudante, de forma a orientá-
lo, incentivá-lo e estimulá-lo com ações que potencialize sua aprendizagem e, consequentemente, seu
desenvolvimento. Nos trabalhos em grupo, o professor pode abrir canais de comunicação que despertem o interesse