Análise de crenças de autoeficácia - 1
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REVISTA DE ENSEÑANZA DE LA FÍSICA, Vol. 36, n.o 2 (2024) 58
I. INTRODUÇÃO
Durante o ano de 2020, a crise sanitária mundial impactou incontáveis atividades humanas, o que inclui o funciona-
mento de instituições acadêmicas e escolares. A pandemia originada pela disseminação do vírus SARS-CoV-2 ocasio-
nou – segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) – a maior ruptura
educacional da história em razão do cancelamento de atividades presenciais que, em seu auge, atingiu aproximada-
mente 1,6 bilhão de estudantes, o que representava cerca de 90% da população estudantil mundial em mais de 190
países (Unesco, 2020). Esse fenômeno motivou discussões e ações nos mais diversos âmbitos sociais e institucionais
acerca das possibilidades de adaptação laboral nessa inesperada conjectura. Nesse sentido, convém refletir acerca
dos impactos do isolamento social na educação Brasileira em curto, médio e longo prazo.
Na literatura, as discussões em torno das modificações das sociedades e do espaço escolar não são recentes, por-
quanto as sociedades e os estudantes do século XIX são distintos daqueles do século XX, em alguma medida, pela
difusão e pelo avanço das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), questão que motiva inúmeras
pesquisas em respeito aos desafios escolares na atualidade dentro de uma acelerada transformação tecnológica (Bo-
nilla, 2009, 2011; Coelho; Costa y Motta, 2021; Silva; Sales y Castro, 2019; Xavier, 2007). De fato, a interação com
essas (recentes) tecnologias torna-se cada vez mais cotidiana e indissociável de nossos afazeres, potencializando o
volume e a velocidade de informações veiculadas globalmente, o que trouxe à tona termos como o “Século do Conhe-
cimento”, utilizado por Xavier (2007 Apud Vergna y Da Silva, 2018) – semelhante à “Sociedade do Conhecimento”, à
“Sociedade da Informação” ou à “Sociedade da Aprendizagem” (Coutinho y Lisbôa, 2011) – em vista dos desdobra-
mentos sociais, culturais e epistêmicos desse contato com as TDIC.
Não obstante, essas nomenclaturas contrastam, em certa medida, com o cenário evidenciado no período pandê-
mico no Brasil. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Brasil, 2018) indicavam que, em 2018, havia
cerca de seis milhões de estudantes da pré-escola à pós-graduação sem acesso à internet de qualidade em sua resi-
dência; destes, cerca de 5,8 milhões estavam matriculados em instituições públicas (Nascimento et al., 2020), e que
em apenas 42% dos lares havia microcomputadores. Dessa maneira, fica evidente que, em países como o Brasil, a
“Sociedade da Informação” contém um volumoso número de famílias, crianças e jovens em idade escolar e, até
mesmo, profissionais da educação sem o acesso e (ou) preparo adequados aos desafios dos usos didáticos das redes
on-line. Com a pandemia, tornou-se mais evidente a frágil (e desigual) articulação entre os processos educacionais
formais e as TDIC, especialmente quando se trata dos estratos socioeconômicos menos privilegiados.
Segundo o Censo Escolar de 2021, o número de matrículas na rede pública tem se mantido, desde 2005, em valores
superiores a 80% do total de matrículas da Educação Básica brasileira. Por isso, ao tratar do ensino de Física no Brasil,
é imprescindível refletir acerca de como avançar em relação aos objetivos e às metas da Educação Básica. Durante
esta pesquisa, refletiu-se acerca dos usos das TDIC nos processos de ensino e de aprendizagem de Física e seu com-
plexo emaranhado de variáveis.
Em 2020, após 128 dias corridos de suspensão total das atividades escolares (no âmbito público), elas foram reto-
madas remotamente com a intenção de: (i) atender os direitos e os objetivos de aprendizagem; (ii) preservar o padrão
de qualidade previstos em lei; (iii) cumprir a carga horária mínima exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação;
(iv) evitar retrocessos na aprendizagem, o aumento da reprovação, e perda de vínculo (evasão ou abandono escolar);
e (v) estabelecer estratégias inclusivas não amplificadoras ou reforçadoras da desigualdade educacional (Brasil, 2020b;
Cunha; Silva y Silva, 2020). Para isso, ações foram tomadas, sobretudo, recorrendo às TDIC.
Costa e Souza (2020) aclaram que o sucesso no uso das TDIC não depende exclusivamente da abordagem didático-
pedagógica escolhida, sofrendo influência de políticas públicas e estruturas sociais e econômicas. Por isso, é necessá-
rio adaptar as abordagens às peculiaridades de cada comunidade escolar, instituição e região, especialmente quando
são usadas tecnologias digitais. De outro modo, existem fatores externos e internos aos estudantes que exercem in-
fluência (direta e indireta) nos processos escolares, como é o caso da motivação acadêmica, da autopercepção e das
próprias convicções perante o aprendizado de determinado campo do conhecimento científico. Portanto, é pertinente
investigar os principais preditores dos comportamentos, dos pensamentos e das emoções dos estudantes, para, en-
tão, propor e avaliar as propostas (políticas, institucionais, pedagógicas, didáticas etc.) direcionadas ao enfrentamento
de adversidades à formação básica pública no Brasil.
As adversidades relativas ao ensino de Física e à difusão do conhecimento científico, em especial mediado por
TDIC na sociedade brasileira, compõem o objeto desta pesquisa translacional, que se fundamenta na perspectiva so-
cial-cognitiva do prolífico psicólogo Albert Bandura (1925-2021).
A Teoria Social Cognitiva (TSC) é o nome dado à formulação geral desenvolvida por Bandura (1977; 1986; 1997;
2023) com o propósito de compreender, de modo amplo, o ser humano, seu funcionamento e comportamento. Esse
quadro teórico guarda grande relevância na psicologia contemporânea (Azzi y Polydoro, 2006). Nesse enfoque, fatores
socioestruturais operam, mediante mecanismos psicológicos, produzindo efeitos comportamentais. Portanto, condi-
ções socioeconômicas, estruturas familiares e escolares exercem influência nas ações humanas, em grande medida,