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A obtenção de peremas, segundo os estudantes, acontece principalmente nos
igarapés. Há uma tendência de coletar mais machos do que fêmeas e, ocasionalmente,
algumas fêmeas durante o período de desova nas praias. Os membros da comunidade
costumam capturar peremas jovens, que se tornam algo como animais de estimação,
conhecidos localmente como “xerimbabos” (Spix e Martius, 1981). Além disso, esses
quelônios juvenis às vezes são intercambiados por itens necessários, evidenciando um
aspecto da economia de troca e a relação integrada entre a comunidade e a fauna local.
Os estudantes também se expressaram sobre outras formas de uso dos quelônios,
revelando que estes animais possuem múltiplas aplicações na vida das comunidades. Além
da contribuição na medicina tradicional e na nutrição, foi destacado por 16 estudantes o uso
do casco dos quelônios no artesanato. Esses adornos, muitas vezes pintados com símbolos
de equipes de futebol, são comuns nas decorações das habitações. Outros usos práticos
incluem a funcionalidade do casco de jabutis como utensílio para triturar pimenta,
aproveitando-se de sua resistência e formato conveniente. Alguns estudantes também
relataram a adaptação dos cascos para auxiliar no processamento manual do algodão.
Historicamente, os quelônios têm sido uma fonte de alimento significativa; os
indígenas são conhecidos como consumidores de sua carne, ovos, gordura e órgãos internos,
conforme descrevem Rebêlo e Pezzuti (2000). Esse papel nutricional e como alternativa de
proteína se expandiu para as comunidades ribeirinhas, especialmente na Amazônia, uma
prática que Fachín-Téran (2005) observa ser mantida até então. Dupré et al. (2007) destacam
que os quelônios são um dos grupos de animais mais utilizados globalmente. Por séculos, eles
têm sido parte integral da dieta humana em áreas remotas e ecossistemas desafiadores, não
apenas como alimento, mas também como animais domésticos e matéria-prima para diversos
produtos, como reportado por Pezzuti (1998).
Durante o estudo, a maioria dos estudantes (n= 25) expressou uma clara preferência
por ovos de quelônios, considerando-os como alimentos de alto valor gustativo. Os ovos são
não apenas um prato desejado, mas também são vistos como um reforço nutricional,
fornecendo força e vitalidade, especialmente em períodos de maior demanda física. A coleta
dos ovos é uma prática sazonal, restrita ao período de verão, em consonância com os padrões
de desova dos quelônios. Este comportamento alimentar foi evidenciado por Rebêlo e Pezzuti
(2000), que observaram padrões similares de consumo na bacia do Rio Negro. O consumo de
ovos, além de seu valor nutritivo, é um traço cultural intrínseco a muitas comunidades
tradicionais, incluindo os estudantes da presente pesquisa. Historicamente, na Amazônia, os
ovos de quelônios tinham usos diversificados, como na produção de óleo para culinária,
iluminação e fabricação de sabão. Embora essas práticas tenham se modificado ou cessado,
o consumo de ovos continua a ser uma parte vital da dieta das comunidades indígenas e
ribeirinhas, como documentado por Fachín-Terán (2005). Esta tradição alimentar ressalta a
continuidade das práticas culturais e a dependência sustentável de recursos naturais na região
amazônica
Nos diálogos com os estudantes, a observação dos quelônios emergiu como uma
atividade claramente diurna. Eles compartilharam que durante a noite, enquanto estão
envolvidos em caçadas, raramente encontram quelônios, diferentemente de mamíferos
noturnos como pacas e tatus. Especificamente, eles notaram que tracajás têm o hábito de se
posicionar em pedras ou troncos ao sol, tornando-os mais visíveis durante o dia. A