Revisiones y Comentarios
inevitavelmente, absoluta. Não se pode fazer escola, nem fazer parte de uma escola. Só
há trabalho clandestino. Só que é uma solidão extremamente povoada. Não povoada de
sonhos, fantasias ou projetos, mas de encontros”. Assim, o autor reflete que é “[...]
dessa solidão que se pode fazer qualquer encontro. Encontram-se pessoas (e às vezes
sem as conhecer nem jamais tê-las visto), mas também movimentos, ideias,
acontecimentos, entidades” (Deleuze e Parnet, 1998, p. 14).
Encontramo-nos, logo nos educamos. Encontramo-nos com pessoas,
movimentos, ideias, acontecimentos, entidades, e… assim nos formamos. Existe certa
dose de acaso, sim, nesses contatos, nos contágios neles mobilizados, mas também nos
articulamos ativamente em sua produção. O filósofo da educação Sílvio Gallo (2010, p.
1), sobre os encontros, lembra-nos de que “Educação é encontro de singularidades”. E,
ao nos misturarmos, no que é singular em cada um, podemos nos tornar múltiplos e,
enfim, criar algo juntos.
Se eu tivesse que escolher algo para falar em educação, seria a criação. “Criar” é
uma palavra que sinto que permeia por inteiro a docência. O ato de criação é uma forma
de resistência ao que nos é imposto, como nos ensina Deleuze (Deleuze e Parnet, 1995):
“E o que é resistir? Criar é resistir…” (p. 68). Resistir é, enfim, ensaiar um outro caminho,
colocar-se ativamente na criação de modos outros de se formar e afirmar no mundo.
Mas estes atos de criação nunca acontecem em processos solitários: é sempre
criar com os outros – inspirado no que Haraway (2023) nos ensina acerca de um devir
com os outros. Então, educar é a arte de criar-com: com os estudantes, com os colegas,
com a escola, com a universidade, com os saberes das ciências, com os seres vivos, com
os elementos químico-físicos que constroem o mundo, com a natureza, com a cultura. A
criação na educação é, em si, um trabalho coletivo, feito a muitas mãos, cabeças…
corpos por inteiro.
Eis um desafio de nos encontrarmos em uma educação em ciências e biologia que
aconteça na/em meio à/pela vida, nos possibilitando perceber que “Habitar o meio em
que vivemos é ser parte dele, uma prática que permite que esse território se torne,
assim, parte de nós” (Sales et al., 2023, p. 12). Essa é a beleza de forjar encontros ao
trilhar caminhos e ao criar mundos, tarefa possível também nas escolas, nas
universidades, nos museus, nos parques e em tantos outros espaços que possamos
ocupar e constituir os nossos territórios-trabalhos-vidas.
Dores e delícias de formar e educar
Percebi desde a infância a multiplicidade de encontros possíveis com a educação.
E eu, gostando dessa coletividade, dessa mistura, desses encontros-intensivos, me
apaixonei nestes campos, imergindo totalmente em seus caminhos, seguindo na
graduação, pós-graduação e docência no ensino básico e, agora, superior. Mas foi
sobretudo nas salas de aula universitárias enquanto estudante, ao licenciar-me em
Ciências Biológicas, que comecei a me reconhecer permeado pelas linhas que tecem e
fazem caminhos de uma vida enquanto professor.