Para uma eco/ontologia política do desenvolvimento: território e relacionalidade da América Latina

Resumo

Neste artigo recupero alguns elementos chave da desconstrução do desenvolvimento com o objectivo de fazer avançar uma compreensão crítica das relações entre a sociedade e a natureza, de uma perspectiva descolonial. Neste quadro, proponho uma abordagem ao desenvolvimento como dispositivo moderno/colonial, destacando algumas contribuições extremamente frutíferas para a construção de uma abordagem interdisciplinar que integre as dimensões ecológica e ontológica na compreensão dos conflitos e resistências sócio-ambientais.

A este respeito, concentro-me em três eixos de reflexão que considero centrais para este inquérito: em primeiro lugar, na construção da territorialidade do estado moderno e da colonialidade da natureza, raízes históricas que nos permitem compreender o longo processo de conquista e colonização na América Latina como condição de possibilidade de implantação do dispositivo moderno de desenvolvimento. E, subsequentemente, em torno da relacionalidade como elemento chave para uma perspectiva que integra e complementa a ecologia e a ontologia política.

O documento pretende oferecer um conjunto de coordenadas epistémico-políticas para orientar um caminho de investigação crítica sobre a intersecção entre natureza, cultura, território e desenvolvimento, no âmbito do convite à construção de cartografias críticas do(s) território(s). Ao mesmo tempo, é interessante destacar as principais contribuições da abordagem pós-desenvolvimento, como um quadro de entendimento centrado em resistências, adaptações e subversões ao desenvolvimento.

Como corolário deste inquérito, apresento alguns elementos que, da minha leitura, são hoje desafios na construção das ciências sociais latino-americanas. Novas - e não tão novas - questões que desafiam o nosso trabalho académico e a nossa crítica diária.