Enredos feministas na luta pelo aborto legal numa perspetiva situada (1983-2005)

Resumo

Este artigo explora os itinerários iniciais da trama feminista argentina ligada ao direito ao aborto a partir de uma perspetiva situada. Na primeira parte do artigo, são apontados alguns nós críticos que colocam em tensão as modalidades mais recorrentes através das quais as narrativas genealógicas feministas têm sido construídas, baseadas principalmente na metáfora das ondas. A partir desses debates, recupera-se a ideia de tramas e a centralidade da dimensão territorial na constituição das experiências políticas dos feminismos e nas narrativas de seus itinerários. Revela, assim, a existência de uma narrativa metropolitana, tornada hegemónica, que atravessa as pesquisas centradas na militância ligada ao direito ao aborto na Argentina.

Na segunda parte, o artigo reconstrói e relata a trajetória dos movimentos de mulheres e feministas ligados à reivindicação do direito ao aborto na província de Mendoza, que apresenta uma dinâmica singular em termos das tensões que atravessam este debate numa sociedade com um forte consenso conservador. Os itinerários centram-se nas experiências dos feminismos em Mendoza desde o regresso à democracia em 1983 até à emergência da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito em 2005. A partir de uma abordagem exploratória e situada, o trabalho identifica alguns acontecimentos que condensam as tensões e os nós do debate sobre o aborto no âmbito feminista durante este período inicial, apontando dois momentos principais: a constituição do aborto como um problema social (1983-2000) e a configuração da demanda como um direito (2001-2005).