v. 10 n. 15 (2023): Direitos humanos e extensão

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O principal objetivo deste dossiê é tecer diferentes experiências de extensão universitária sob a perspectiva dos direitos humanos.

A história recente de nosso país e a história do movimento de direitos humanos, com suas trajetórias de lutas, conquistas e disputas, mostram que os direitos não são conquistados de uma vez por todas, que não há uma forma unívoca de nomear, categorizar e estabelecer o que se nomeia quando falamos em direitos humanos se não levarmos em conta a gênese e a transformação dessa ideia em um determinado tempo e espaço social. Os direitos humanos - como os entendemos - são condicionados pelas sociedades nas quais ocorrem os processos de reconhecimento e violação de direitos, bem como os espaços de resistência e os resquícios de humanidade diante da crueldade.

Do nosso ponto de vista, não basta que os indivíduos identifiquem que têm direitos ou que determinados Estados reconheçam sua existência; ao contrário, os direitos humanos constituem projetos de vida e subjetividades que não se desenvolvem na solidão e só são possíveis por meio de construções coletivas. Portanto, os direitos humanos têm muito a ver com a politização da vida em comum, por meio da construção de uma vida com os outros. Ou seja, com sujeitos com capacidade de agência que delineiam os contornos do que significa falar de direitos humanos e o que essa expressão contém ou abriga. Esse processo inclui consensos e disputas, avanços e expansões, mas também retrocessos.

Nesse sentido, as lutas pela defesa e ampliação dos direitos estão intimamente ligadas ao compromisso universitário, a partir da posição política em que a extensão crítica aborda seu trabalho universitário. Em princípio, por causa da existência e do compromisso com o trabalho de extensão baseado em abordagens de direitos humanos. Mas também porque ambos os paradigmas não são possíveis sem a interlocução constante com outros, com diversos coletivos que nutrem, enfatizam e discutem os significados da extensão e dos direitos humanos. Consideremos, por exemplo, como seria possível que o campo da reflexão e do trabalho acadêmico tornasse a noção de direitos humanos mais complexa se não levasse em conta o diálogo e os vínculos com aqueles que lutam cotidianamente na arena do (im)possível. Por sua vez, tanto o trabalho de divulgação quanto o de direitos humanos devem priorizar tempos e espacialidades que vão além das demandas dos sistemas de avaliação, ou seja, que acabam por liquefazer as demandas individuais.

Nesta chave, convidamos você a compartilhar experiências de extensão que atuam em articulação com o movimento de direitos humanos; espaços de memória, organizações territoriais; economia popular; comunidades indígenas; comunidades camponesas; organizações ambientais; com quem atua em contextos de confinamento, com mulheres cis, trans, travestis, não binárias e outras corporeidades feminizadas, com quem luta pelo direito à cidade; à cultura, à escolha, ao usufruto. A convocação também é para que se façam reflexões com educadores comprometidos com a efetivação do direito de acesso e permanência no ensino superior.

Em um contexto em que o neoliberalismo em nível global não é mais apenas um regime político ou um programa econômico, mas uma subjetividade dominante, é essencial recuperar o potencial emancipatório dos direitos humanos como categoria e prática política das universidades em diálogo com outros atores e territórios. Além disso, o contexto atual nos obriga a repensar as estratégias coletivas para o efetivo cumprimento dos direitos. Essas estratégias só serão possíveis se as agendas, as demandas e os desejos forem articulados, se as reflexões críticas forem construídas a partir da palavra coletiva e transgressora, ou seja, da palavra transformadora.

Publicado: 2023-05-31

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