Universidades na era da democratização da ignorância
DOI:
https://doi.org/10.61203/2347-0658.v14.n1.48044Palavras-chave:
Universidade. Democratização. Movimentos de identidade. Novos direitos. AnticiênciaResumo
Jameson destacou que a pós-modernidade é caracterizada por um “predomínio do cultural”, para o qual a identidade é imposta sobre o econômico/social. Desta forma, os movimentos indígenas e vários feminismos têm sido muito fortes nos últimos anos, ligados à reivindicação da especificidade identitária. Antes do aparecimento da “nova direita” a nível global (Le Pen, Trump) e na região (Bolsonaro, Milei) não foi entendido como problemático que esses movimentos e as linhas teóricas que os expressam – o decolonialismo, por exemplo – tenham produzido críticas às noções de objectividade e de ciência, entendendo-as como típicas do colonialismo eurocêntrico. Tais críticas passaram a convergir ao longo do tempo – ainda que de forma involuntária e conflitante – com os ataques que esta nova direita lança contra a ciência e a argumentação. Desta forma, as políticas de democratização universitária em vários níveis (1. Das suas condições de acesso e permanência; 2. Dos seus mecanismos de decisão; 3. Da sua autonomia em relação aos governos e aos partidos; 4. Contribuindo para a noção nacional de democracia) foram parcialmente minados pela ascensão silenciosa das redes electrónicas e pela direita ideológica que soube utilizá-las, implicando um desprezo considerável pelo conhecimento e pela ciência. A sociedade valoriza as universidades, mas ignora os seus próprios traços que negam o valor da ciência, expressos em diversos sintomas. É necessário assumir uma forte defesa do conhecimento e da razão nestas situações.
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