A democracia como valor de uso da universidade periférica

Resumo

A universidade latino-americana tem um trauma de origem: nasce na colônia, operando como uma ferramenta de dominação ideológica, assimilação cultural e reprodução de dependência. Este artigo busca argumentar que a história da universidade periférica latino-americana é, essencialmente, uma luta para superar essa origem fundante, expressa em sua disputa para se configurar como uma instituição democrática internamente e democratizadora socialmente. Nesse contexto, a universidade da região deve ser entendida como a expressão de uma dialética, que reflete sua dualidade como espaço de reprodução sistêmica da história colonial, ao mesmo tempo em que busca sua própria emancipação. O texto começa descrevendo o nascimento da universidade periférica. Em um segundo momento, analisa sua luta interna ao explorar a evolução dialética dessas instituições durante momentos-chave, como a Reforma de Córdoba de 1918, a conquista da gratuidade educacional em 1949 e a luta pelo ingresso irrestrito, implementado de forma efetiva após o retorno da democracia em 1985 e consolidado com a Lei Puiggrós de 2015. O artigo retoma este debate na atualidade, evidenciando o assédio enfrentado pela universidade no contexto do cerco que atravessa a democracia na região. Diante desse cenário, analisam-se as mobilizações universitárias de caráter nacional em 18 países da região entre 2018 e 2024 (178 no total), evidenciando a dualidade de sua luta: resistir para defender suas conquistas democráticas enquanto protege o regime democrático social. No marco da história da universidade e da região, o artigo conclui defendendo a necessidade de configurar a democracia como o valor essencial de uso da universidade periférica.